EDIL PACHECO, COMPOSITOR DA BAHIA

A Bahia nos idos dos anos sessenta e setenta revelou inúmeros artistas que se notabilizaram pela qualidade de suas produções, tanto na pintura, escultura, literatura, e especialmente na música. Foi uma época de grandes realizações e movimentos culturais que formaram a base principal de nossa formação musical, e serviram para que os jovens de hoje pudessem entender o que passou a ser denominado de música baiana. Evidentemente que esse termo depois descaracterizou-se pela má qualidade que se verificou na segunda metade da década de oitenta e permanece até hoje, com raras e reconhecidas exceções.

Um dos principais artistas dessa geração de talentos da Bahia foi Edmilson de Jesus Pacheco, ou Edil Pacheco como é mais conhecido, nascido em 1 de junho de 1945 na cidade de Maragojipe, última cidade do recôncavo baiano. Entusiasmado pela música desde muito cedo interessou-se em tocar um instrumento, e o eleito foi o violão, que acabou sendo a ele presenteado pelo amigo José Messias. Aos 18 anos passa a residir em Salvador trabalhando numa padaria situada no Largo 2 de Julho, e como já estava tocando violão, passou a freqüentar a roda de boêmios e músicos da capital.

Em 1963 integrando o Grupo Função, conhece Ederaldo Gentil, Batatinha, Tião Motorista e outros artistas que como ele buscavam seu espaço dentro do cenário artístico de Salvador. Em 1965 participou como músico acompanhante de violão de um show intitulado “Eu Sou, Tu És, Nós Somos: Gente”, produzido por Vieira Neto, colunista do jornal A Tarde, onde então compôs sua primeira música intitulada Protetor do Samba, canção que ficou inédita até hoje, tendo a sua letra divulgada pela primeira vez.

Viva o morro escola de gente bamba
Salve o morro protetor do nosso samba

Você diz que o samba nasceu na cidade
Isso é mentira, escondida na verdade
O samba nasceu no morro
Escola de gente bamba
Salve o morro protetor de nosso samba.

Em 1969 depois de ter tentado várias vezes ver uma de suas músicas gravadas Edil Pacheco finalmente consegue, que Eliana Pitman, então em pleno sucesso, grave duas canções, Fim de tarde feita em parceria com Luiz Galvão e Passatempo com Bastatinha e Cid Seixas. Em 1970 Jair Rodrigues em visita a Salvador toma conhecimento do talento do jovem compositor, é a ele apresentado e grava em seu disco Talento e Bossa o samba Alô Madrugada, que Edil fez em parceria com Ederaldo Gentil, alcançando sucesso em todo o Brasil, consagrando e abrindo a Edil Pacheco, de forma definitiva as portas das gravadoras do Sul do país.

Alô madrugada
Onde anda o meu amor
Saiu bem cedo disse logo vou voltar
Já procurei na avenida, procurei
Alô madrugada
Meu amor não encontrei


Madrugada que estrada ela seguiu
Chame a lua pra cidade iluminar
No meu peito já não cabe tanta dor
Madrugada, onde anda o meu amor.

Reconhecido nacionalmente como um compositor de grande talento, um dos melhores de sua geração, Edil Pacheco passa a ser figura obrigatória no repertório de grandes intérpretes da música popular brasileira, emplacando inúmeros sucessos como por exemplo: Estamos aí com Paulo Diniz, Gal Costa 1972; Tristeza, com Carlos Lacerda, Wilson Simonal 1973; Abra um sorriso novamente, com Jairo Simões, Jair Rodrigues 1974; Aruandê com Nelson Rufino, Alcione 1975; Siriê com Paulinho Diniz, Fafá de Belém 1976; Lua menina com Paulinho Diniz, o maior sucesso de Alcione do ano de 1976.

Lamaparina do mundo
Vivo na solidão
Tenho o corpo cansado
Olhos presos no chão
Só o teu prateado
Me da grande emoção
Selene ilumina o escuro
Do meu coração

Diana menina me leva
Me ensina esse teu cintilar
Bailarina do céu
Com teus passos me ensina a bailar

Teu luar deve ser mais tranqüilo
Diana
Teu mundo melhor que o meu
Cíntia
Eu quero também ser menino
Selene
Me leva pro reino que é teu
Rainha dos astros
Me leva pro reino que é teu.

Com tantos êxitos so faltava a Edil Pacheco gravar seu disco, e isso ocorre em 1977 quando lança pela gravadora Polydor o LP Pedras Afiadas, contendo treze excelentes músicas que fizeram muito sucesso, destancado-se entre elas o samba Abra a gaiola em parceria ccom Paulinho Diniz. Em 1982 Edil Pacheco registra o maior sucesso de sua carreira e também um dos maiores êxitos da cantora Clara Nunes, quando ela grava o já clássico Ijexá na época uma das músicas mais executadas em rádios de todo o Brasil.

Filho de Gandhi Badauê
Ylê Ayê, Malê de Balê, Oju Obá
Tem um mistério que bate num coração
Força de uma canção que tem o dom de encantar

Seu brilho parece um sol derramado
Um céu prateado, um mar de estrelas
Revela a leveza de um povo sofrido
De rara beleza que vive cantando profunda grandeza

A sua riqueza vem lá do passado
De lá do congado, eu tenho certeza
Filhas de Gandhi, ê povo grande
Ojuladê, Katendê, Baba-Obá
Netos de Gandhi
Povo de Zambi
Traz pra você um novo som ijexá.

Em 1984 Edil Pacheco lança mais um LP intitulado Estamos Aí, em 1988 contratado pela Polygram lança o disco Afros e Afoxés da Bahia e 1998 grava o CD Dom de Passarinho.

Hoje Edil Pacheco é um nome nacional reconhecido como um grandes compositores de nossa canção popular, sua obra registra mais de 250 músicas gravadas pelos mais importantes nomes da música brasileira. Atualmente atua como produtor de discos, tendo lançado recentemente o trabalho Do Lundu ao Axé-100 Anos de Música Baiana em parceria com Paulinho Boca de Cantor, e vem trabalhando seu próximo disco O Samba me Pegou.

Sua intensa atividade artística bem como sua obra é um orgulho para a Bahia, tornando-o um dos personagens mais destacados da Música Popular Brasileira.

Texto : Luiz Américo Lisboa Junior - Itabuna, 16 de outubro 2002



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