REDESCOBRIMENTO DA MÚSICA NACIONAL

O redescobrimento da música nacional é algo que já vem acontecendo há muito tempo. Quando se fala sobre o foco de atenção no Brasil, é preciso lembrar que isto já vem acontecendo há muitos anos. Começou há mais de 70 anos quando Pixinguinha fez o primeiro intercâmbio Brasil-França, com as rodas de chorões. De lá pra cá surgiram muitos expoentes, como Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Naná Vasconcelos; e Gilberto Gil que passou 20 anos tocando em todos os lugares e abrindo efetivamente os espaços.
Existe esse conceito de achar bonito o "primitivo". Por que o primeiro mundo tem essa adoração pela cultura do terceiro mundo? Isso é uma culpa inconsciente gigantesca. E se verifica, por exemplo, pelo reggae ter estourado na Inglaterra e não na Jamaica; a música indiana também na Inglaterra e não não na Índia; e a música africana na França e não na própria África. Isso tudo configura um sintoma. É quase como uma resposta do colonizado ao colonizador. A criação pelo mercado fonográfico do rótulo "world music" é um grande invenção para excluir todos aqueles que não cantam em anglo-saxão. Aquele que não canta em inglês passa a ser considerado "world music", e isso é um padrão que não se adequa ao cenário mundial. Estamos acabando o século XX e começando o século XXI e algumas pessoas pregando a barreira de língua? Isso é um anacronismo que eu não aceito.
O que realmente existe é uma "Babel" sonora. A música está aproximando os povos. Já pude confirmar isso na minha última turnê . Foram mais de 30 cidades em 13 países, e vi almas irrequietas similares à minha em todos os lugares, com o mesmo tipo de estímulo, atitude honesta, sincera, íntegra. Todos querendo fazer uma crônica legal do tempo que estão vivendo - e isso nos aproxima fundamentalmente. Tenho hoje a plena certeza que não estou sozinho no mundo, sem me restringir ao Brasil, onde eu tenho muitos comparsas, muitos cúmplices e muitos parceiros.
Estou me referindo ao "fora do país", onde posso encontrar inúmeros lugares; onde posso cair, próximo a pessoas que tem o mesmo tipo de postura, visão e que sejam irrequietas como eu, com o mesmo tipo de atitude perante ao mercado, a mesma intransigência e cabeça-dura sobre uma linguagem e uma assinatura. É tudo igual.
O importante é a postura que o artista assume. No mais, a diferença não existe.

Texto : Lenine



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