PIERRÔ MÍSTICO
Torna a meu leito, Colombina!
Não procures em outros braços
Os requintes em que se afina
A volúpia dos meus abraços
Os atletas poderão dar-te
O amor próximo das sevícias
Só eu possuo a ingênua arte
Das indefiníveis carícias
Meus magros dedos dissolutos
Conhecem todos os afagos
Para os teus olhos sempre enxutos
Mudar em dois brumosos lagos
Quando em êxtase os olhos viro
Ah se pudesses, fútil presa
Sentir na dor do meu suspiro
A minha infinita tristeza!
Insensato aquele que busca
O amor na fúria dionisíaca!
Por mim desamo a posse brusca:
A volúpia é cisma elegíaca
A volúpia é bruma que esconde
Abismos de melancolia
Flor de tristes pântanos onde
Mais que a morte a vida é sombria
Minh’alma lírica de amante
Despedaçada de soluços
Minh’alma ingênua, extravagante
Aspira a desoras de bruços
Não às alegrias impuras
Mas àquelas rosas simbólicas
De vossas ardentes ternuras
Grandes místicas melancólicas!
COMPOSITOR : Manuel Bandeira