TEMPOS DE ALERQUIM


Salvador, é Carnaval. Quando cheguei
Em noite de Segunda-feira Gorda
As cores da cidade feiticeira
E os meus olhos na praça fumegavam

Havia corso e blocos veteranos
(Nomes claros que hoje fazem sonhar)
Sobem os Inocentes em Progresso
Descem os Mercadores de Bagdad

o Bob’s Bar, que depois será Cacique
Param o som travesso e a peraltice
Da guitarra elétrica na fobica:
Uma estrela desponta e, com a luz dela

A multidão que pula e agita ramos
(A prévia tosca da mamãe-sacode)
Canta, dança, grita, bebe cerveja
Eu ali que faço? Acompanho o passo


Batalhas de confete e serpentina
Pierrôs, lança-perfume, colombinas
Estrelejando o chão da Rua Chile
Onde desfilam afoxés. (A brisa

É mais um concorrente da folia
E eu, olhos postos em longínqua trama
De sonhos dando voltas num salão
E numa rua, espelho do infinito)

Avança por meu tempo de incertezas
A máscara sedutora do passado
Blocos de rancho fecundando auroras
E o entardecer de etéreas batucadas

Súbito são morenas de um cordão
Arlequim invasor da madrugada
Agarra-se à cintura de uma delas
E sobe a praça rumo à Sé que ferve

VERSOS : Florisvaldo Mattos



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