O Carnaval de Salvador já tem um rosto, um sorriso e muita ginga.Trata-se de Clementino Rodrigues, ou Riachão, sambista de 85 anos, autor popular de muitos sucessos e que será o símbolo da maior festa de participação popular do planeta cujo tema, “O coração do mundo bate aqui”, este ano faz uma homenagem ao samba.
Ele foi apresentado oficialmente nesta terça-feira, dia 23, na sede da Emtursa, pelo presidente da Empresa de Turismo S/A, Fernando Ferrero. De paletó quadriculado, boné branco e a toalha no pescoço, uma de suas marcas registradas, Riachão chegou cantando e sambando sendo aplaudido pelos presentes. Além de artistas e representantes do trade carnavalesco, participaram da apresentação de Riachão os diretores da Emtursa, Misael Tavares (Eventos) e Everaldo Evaristo (Financeiro).
A escolha de Riachão como símbolo do Carnaval 2007, como disse Reginaldo Santos, da Coordenação do Carnaval, “representa um momento novo na mentalidade de preservação de nossos símbolos tão importantes para a folia”, além de “contemplar essa figura tão maravilhosa e tão representativa para a Bahia e para o samba”, disse.
O presidente da Emtursa, Fernando Ferrero considerou Riachão como “uma lenda musical, artista de talento nato e tradição do samba na Bahia”. Para ele, “essa homenagem é o pagamento de uma dívida que Salvador tem com Riachão e que hoje o prefeito João Henrique resgata com essa homenagem”. Fernando Ferrero disse que Riachão será não apenas o símbolo do Carnaval, mas representará duas novas bandeiras que a folia de Salvador incorpora este ano, em conjunto com os governos estadual e federal, de combate à fome e contra a exploração infantil.
Com o sorriso aberto, Riachão disse que essa homenagem “não podia ser melhor”. Ele fez um breve relato sobre sua carreira, iniciada no anos 40 quando cantava música sertaneja na Rádio Sociedade da Bahia. “Agora estou tendo a oportunidade de ser lembrado pelo prefeito João Henrique com quem trabalhei no Desenbanco, época em que também vivia cantando”, disse.
Riachão aproveitou a sua apresentação como símbolo do Carnaval para apresentava uma nova composição que, como assegurou o presidente da Emtursa, será um dos jingles da folia. Trata-se de um sambinha com letra fácil que diz assim: “Se você me chama/ Você vai/ Carnaval da Bahia é puro samba/ Todo mundo juntinho/ É só alegria/ O samba não pode parar/ Cultura é paz e amor/ Carnaval da Bahia/ É com ele que eu vou/ Salvador”.
Essência negra Artista dos mais populares e queridos, e sambista desde menino, Riachão nasceu no dia 14 de novembro de 1921, no bairro do Garcia, onde vive até hoje ao lado da mulher, dona Dalvinha, e os filhos. É também considerado como um dos maiores sambistas vivos da Bahia e do Brasil, nome consagrado na essência negra da cultura da Bahia, tanto pela sua verve pitoresca na forma de compor, retratando fatos e ocorridos nas ruas da cidade - cronista musical da antiga Salvador. Autor de "Cada macaco no seu galho", gravada por Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo, além de pérola como "Ousado é mosquito", o hoje símbolo da maior festa de participação popular do planeta.
Riachão já participava das rodas de serenata desde os nove anos, cantando em aniversários ou nas batucadas com os amigos do Garcia. Usava latas de água como tambor, onde fez a sua primeira composição (sem título), cujos versos dizem: "Eu sei que sou moleque, eu sei, conheço o meu proceder/ Deixe o dia raiar que a minha turma, ela é boa para batucar". Nos anos 40 entrou para o cast da Rádio Sociedade, onde cantou com trio vocal no “Show Pindorama”, do radialista Motta Neto, espécie de caça talentos naquela época.
Está aí o início de uma carreira cheia de altos e baixos, onde Riachão com talento e sabedoria soube chegar ao samba, com a inspiração de Dorival Caymmi, conseguindo gravar no Rio de Janeiro ainda nos anos 50.