carnavalhistóriatemasabadasmúsicahome


      


Carnaval
Texto de Wadinho Marques - Chiclete com Banana


Alguns dias se passaram. O corpo ainda sente o toque carinhoso das mãos. Os beijos mais ousados deixaram perfumes nos lábios. As fantasias eróticas debaixo das máscaras inexistentes caíram por terra ou por mar. A nudez que disputou espaço com pedaços de abadás coloridos refletiu a excitação carnal dos amantes que entrelaçados se distanciavam do sozinho para o centro da multidão se doando e se permitindo entre olhares assustados. Todo esse mistério, esta sensação de permitir o acasalamento do certo com o errado e não identificar qual deles é o importante, poderia estar num hospício que se chamaria ALEGRIA. Mas, no entanto, está no meio das ruas, becos e vielas se misturando com as latas vazias, amassadas e saboreadas. Está no acorde perfeito que ecoa do alto do trio. Está na dissonância do bêbado, no sorriso da criança, no olhar daquela velhinha que sorrindo diz: “no meu tempo era melhor”.
As ruas sujas, quase imundas, transpiravam a energia ali depositada como se nada prestasse. Um cartaz que em algum momento teve o seu valor, um copo quebrado que provocou o gole da felicidade, a serpentina não mais usada, a sandália perdida, a foto rasgada, o batente de uma casa para descansar, o cassetete que zumbia pelo ar, o medo, a alegria, a paz, tudo se confundia num cenário único e sem objetivo de saber quem era o mais forte nem o mais fraco. O que importa? É CARNAVAL.
Empurrões, abraços, beijos roubados e doados. Mentiras verdadeiras se misturam com despedidas, enquanto olhares e fatos se transformam em lembranças perdidas. A beleza não tem importância. O belo é a verdade, é a careta na foto, a gargalhada sem piada. O belo é o que se deseja naquele momento, é pertencer a um e ser de todos. Não existe quarta-feira de cinzas, nem quinta, nem sexta. Ninguém lembra. O que vale é ali e agora.
O som entra pelos poros e deixa a mente mandar sem conceito nem pré-conceito, não existe emoção muito menos razão, apenas um sentimento tão misterioso que o mais perfeito dos poetas pediria ajuda ao mais insano dos loucos para definir.
OH CARNAVAL!! Como lhe queremos bem! Como você consegue fazer ricos, pobres, pretos, brancos, amarelos, e sexo de todas as tribos, entrarem na mesma sintonia. Nenhum ditador, rei, presidente ou general ditou regulamento, você fez as normas do amor onde nem tudo pode, mas é quando o nada é tudo.

Wadinho Marques
Banda Chiclete com Banana

Fonte : Wadinho Marques - março 2011

volta | contato

www.carnaxe.com.br