Na próxima semana Ernesto Teixeira se tornará um Sambista Imortal, título que irá receber nas 24h de Samba, na Mocidade Alegre, um dos reconhecimentos da pessoa mais Fiel a um único pavilhão. Pois ninguém no Carnaval é mais Fiel que Ernesto, sambista de uma só escola, onde está há 32 anos. Na Gaviões da Fiel, onde ele canta sem qualquer remuneração, por amor ao Carnaval, à Gaviões e ao Corinthians, participa de tudo, chamado especialmente nos momentos críticos pela sua experiência não apenas de Gaviões, mas de samba e de vida. E tamanha a paixão que ele saiu das arquibancadas, de lá para a torcida, entrou no Bloco Carnavalesco, foi ritmista, se tornou intérprete em um momento de necessidade, mas o auto-ditada abraçou a chance dada pelo destino, estudou e ajudou a transformar o bloco em escola de samba. A Gaviões perdeu o repenique, mas ganhou a sua voz que levanta a Arquibancada Monumental e faz o Anhembi sacudir… Com vocês, Ernesto Teixeira, radialista, marqueteiro, sambista, mas acima de tudo um Corinthiano (com a H como ele gosta) que é a voz da massa Corintiana.
Há quantos anos está no Carnaval, como e onde começou? Quantos anos como Intérprete? Quanto com o microfone nº 1?
ERNESTO - Estou no carnaval desde 1980, quando acompanhava os ensaios do Bloco Gaviões da Fiel, onde cheguei em 1979, como filiado, para torcer pelo Corinthians. Em 1981 eu desfilei pela primeira vez, ainda como folião. No ano seguinte fui para a bateria, como ritmista onde permaneci por três anos (82, 83 e 84). Já a partir de 1984 comecei a cantar nas rodas de samba, após uma audição promovida pelo então presidente dos Gaviões Luiz Antônio Achôa Mezher, o Magrão, que mandou ligar o som na quadra num sábado a tarde para que eu cantasse alguns sambas no microfone. Ele me deu essa oportunidade por eu sempre ser me destacar cantando nas arquibancadas nos jogos do Corinthians, em todas as modalidades que contavam sempre com a presença da torcida organizada. Aprovado no teste passei a animar as rodas de samba realizadas na quadra, ainda descoberta, da Gaviões e também fazia todas as apresentações da entidade. Nessa época o interprete oficial da Gaviões era o Armando da Mangueira, que também defendia a Nenê de Vila Matilde. Em 1984 o interprete oficial da Gaviões foi o Thobias da Vai-Vai e num desfile de bairro, diante da ausência do titular fui convocado, deixando a bateria para conduzir a escola como interprete. Estava fantasiado e de última hora o Avelino Leonardo Gomes me emprestou o seu paletó, dois ou três números maiores que o que eu, e assim puxei o Bloco da Gaviões.
Em 1985, tive a primeira oportunidade como interprete oficial, ainda na avenida Tiradentes, quer era o palco do carnaval paulistano, desde então me mantive nesta condição passando também a compositor, disputando os sambas de enredo, desde 1998, já tenho vencido por sete vezes (1998, 99, 2000, 2001, 2002, 2005 e 2006).
Como interprete venci os carnavais: 1985, 86, 87 e 88 Gaviões da Fiel como Bloco Especial1995, 1999, 2002 e 2003 Gaviões da Fiel como Escola de Samba do Grupo Especial 1991, 2005 e 2007 Gaviões da Fiel como Escola de Samba do Grupo I
Já cantou sambas em outras cidades? Quais?
ERNESTO - Já cantei na cidade de Bragança Paulista, pela Escola de Samba 9 de Julho, onde também fui um dos autores do samba, a convite de Avelino Leonardo Gomes, o Bigode. Também compus e acabei interpretando o samba da Estopim da Fiel, Escrava Anastácia, no ano de 2002, em Diadema.
Há quantos anos na Gaviões? Como Chegou?
ERNESTO - Desde 1979, quando cheguei a Gaviões para acompanhar o Corinthians, levado pelo Ariovaldo Aparecido da Silva e recebido por Roneibo Mendes de Oliveira, o Jogador, uma das figuras marcantes da história dos Gaviões.
Qual o seu desfile de Carnaval inesquecível na sua carreira de intérprete? Por quê?
ERNESTO - O primeiro pelas características. Foi praticamente a capela, não teve cavaco nem violão, em 1985, na avenida Tiradentes. Mas os títulos de 1995 e de 2002 marcaram pela sintonia entre mim, a bateria e o público. Foram desfiles que saí da avenida com a certeza do título.
Tem alguma atividade profissional paralela ao Carnaval, qual Ou só se dedica à música Quantos sambas já escreveu? Quantos já ganhou?
ERNESTO - Tenho outra atividade profissional paralela ao carnaval. Alias, eu não recebo qualquer remuneração para exercer a função de interprete na Gaviões, talvez o único no Brasil nessa condição, numa escola considerada de ponta. Passei a escrever samba em 1988, quando me arrisquei a fazer um samba para o Bloco da Gaviões. Cheguei à final. Depois só voltei a escrever novamente em 1998, já com a Gaviões como escola de samba do Grupo Especial. Escrevi e venci, com os parceiros Alemão do Cavaco e José Rifai, o enredo Corinthians, meu mundo é você. Foi a porta de abertura para uma sequencia que terminou em 2003, ou seja, ganhamos os concursos de 1999 (Gaviões Campeão do Especial), 2000, 2001 e 2002. Voltei a ganhar quando a Gaviões estava no grupo de acesso, ou Grupo I, em 2005, 2006 (grupo Especial) e 2007, novamente no grupo I.
Em 2009 estive ausente por acreditar que o processo de escolha precisasse ser revisto, não apenas na Gaviões mas também em outras entidades. Participei em 2010, porque era o ano do Centenário do Corinthians. Não venci, mas o nosso samba, Corinthians, minha vida, minha história, foi utilizado pela Gaviões de Sorocaba. Em 2011, não participaria, mas um convite de Osvaldinho da Cuíca me fez mudar de ideia. Não venci mas passei a respeitar ainda mais esse Cidadão Samba, pela sua capacidade, pela sua humildade e sua vitalidade.
Em 2012 volto a compor com José Rifai e outros amigos que conheci agora. Estamos no processo de disputa, mas o samba tecnicamente está perfeito e quem sabe a gente não emplaca mais um e ajuda a Gaviões a voltar ao topo do carnaval paulistano.
Qual o momento mais marcante no Carnaval?
ERNESTO - Foi em 1984, quando pela primeira vez a Gaviões levou para a avenida um carro que utilizava iluminação à base de geradores portáteis. Outro momento foi em 2004, quando o 4° carro quebrou e nós, a ala de compositores já quase na dispersão, olhávamos pra dentro da pista e víamos o carro indo e vindo, chocando-se contra as laterais. Era o sinal de que aquele ano não daria pra gente, mas não podíamos parar, o canto continuou até o último componente cruzar a linha.
Qual a preparação que desenvolve ao longo do ano? Por quanto tempo?
ERNESTO - No dia do desfile, procuro descansar ao máximo. Muitas vezes não é possível dado o nosso envolvimento com outras questões relacionadas à escola. Mas quando dá, descanso é a melhor coisa. Para me vestir não gasto muito tempo, sou pratico e também as roupas que escolhemos nos proporcionam gastar pouco tempo, normalmente ternos, sapatos, sem muitos adereços. Procuro ficar em silencio nas horas que antecede o desfile, dormir bem, sem extravagâncias alimentares.
Durante o ano não há uma preparação especial, mas o ideal é sempre exercitar as cordas vocais.
O que vc sente quando a sirene dispara e o portão Abre E depois que ele se fecha, qual o sentimento?
ERNESTO - A cada ano, quando o locutor oficial, o mestre Sabu, diz: PRÓXIMA ESCOLA A ENTRAR NA PASSARELA DO SAMBA… GAVIÕES DA FIEL A PASSARELA É DE VOCÊS, deixo de ser eu e passo a ser o espírito da FIEL TORCIDA e assim é até o fechamento do portão, quando depois de alguns minutos, passo a entender que mais um carnaval está concluído, mais uma vitória foi conquistada.
Tem alguma superstição para o dia do desfile? Alguma coisa que não deixa de fazer por nada? Qual o intérprete que lhe inspira?
ERNESTO - No início a voz do carnaval paulista era a de Armando da Mangueira, em seguida surgiu o Royce do Cavaco, sempre me espelhei neles e acabei descobrindo o meu estilo. Aliás, o Royce do Cavaco, em 1988, quando eu cantava um samba para o saudoso Osvaldo Arouche na X-9, me convidou para desfilar com ele na Rosas de Ouro, onde fui muito bem recebido e até tive proposta do também saudoso Basílio para ficar por lá. Mas o meu amor pelo Corinthians e pela Gaviões sempre falou e falará mais alto.
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Fonte : Liga das Escolas de Samba de São Paulo (24/09)- setembro 2012
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