Para o roteirista, Gabriel Ormuz Machado, há muito pouco escrito e documentado sobre o legado de Mestre King, artista que formou gerações de dançarinos e difundiu no mundo a riqueza da dança originaria dos terreiros de candomblé. O documentário traz entrevistas com pessoas próximas Jorge Silva, Anderson Rodrigo, Luiz Deveza, Matias Santiago, Ricardo Costa, Gabi Guedes, Amilton Lino, Carlos Pereira Neguinho, Anilson Neto, Zé Ricardo, Paco Gomes, Luiz Bokanha, Fábio Alexandro, Felipe Alex Santos, Clyde Morgan, além de buscar registrar seu corpo que ainda dança e guarda a memória de anos de conhecimento construído. “O filme resignifica, religião, politica, ancestralidade, o meio é a mensagem nessa historia, onde se juntam nessa encruzilhada o Mestre King e seu legado” acrescenta.
Já para o diretor Bruno de Jesus, o documentário possibilita enxergar o legado do artista nos corpos dos seus alunos, formando gerações de bailarinos, que se dedicaram à dança afro e são representantes desta arte mundo afora. O filme nasceu durante o processo de realização do espetáculo coreográfico Raimundos, lançado na comemoração dos 50 anos de palco do mestre. A escolha foi por ouvir homens bailarinos, todos negros e que deram continuidade ao legado de King.
“Celebrar 50 anos de carreira do Mestre King, é celebrar a história da dança na Bahia. Falar dele é falar da gente, da nossa memória, da nossa ancestralidade. A dança como filosofia dela mesma, isso que tento transbordar com o espetáculo Raimundos, assinar dirigir, coreografar e dançar este espetáculo me emociona, me faz refletir” explica Bruno. Para o artista, a exaltação da memória viva de King é “perceber a importância das figuras masculinas na dança baiana, atravessar gerações com desdobramentos da formação das danças de matrizes brasileiras e mergulhar e construir historias e movimentos e poesias. Esse lugar do espetáculo me leva para outros lugares, de transformação. A dança gerando potencias políticas em sua comunicação corpo e poesia”.
Filme e espetáculo de dança partem da pesquisa sobre a diversidade no contexto cultural afro-brasileiro, a partir de investigação dos elementos de matriz africana como a simbologia de orixás, religiosidade, destacando o corpo como sagrado e o corpo como festividade através de um olhar contemporâneo. Num diálogo entre dois bailarinos negros, a coreografia explora aspectos das danças de orixás, a puxada de rede, o samba de roda, como componentes que configuram a dramaturgia do espetáculo. No documentário, os entrevistados foram convidados a também usar do movimento para remontar suas trajetórias.
Mestre King – Nascido em 1943, no mesmo ano de criação do Teatro Experimental do Negro, de Abdias do Nascimento, King conheceu a dança já adulto, após prestar serviço militar e uma temporada na Marinha do Brasil. Ao integrar o Coral do Mosteiro de São Bento, a curiosidade pelas artes foi desperta, primeiro pela música, depois pela capoeira até chegar na dança. A percussão aproximou o artista do grupo Olodumare, onde teve seu primeiro contato com a dança e desejo de aprofundar o conhecimento. Assim, em 1971 prestou vestibular para Escola de Dança da UFBA, destacando-se como o primeiro homem negro a ingressar no curso, que tinha uma maior presença de mulheres, brancas em sua maioria. Em paralelo, a música o levou para frequentar os terreiros do candomblé, onde percebeu a riqueza dos movimentos dos orixás. O resultado disso foi que King desenvolveu um método que mistura elementos de danças folclóricas e populares brasileiras com as dos orixás do Candomblé, que resultou na dança afrobrasileira.
“Eu observava os movimentos e pensava em levar isso para dentro das minhas aulas. Aos poucos fui copiando o que via e trazendo para fora dos terreiros. O que sem dúvida, foi uma ousadia, pois muitas danças eram fechadas do ambiente do candomblé e minha atitude recebeu várias críticas naquele momento, mas também muita receptividade. Muitas vezes, a dança e a música colocavam os alunos em transe e eu tinha que dizer...pera lá” recorda-se King, que acabou contribuindo para difusão da cultura afro-brasileira, conquistando adeptos de todo o Brasil e fora dele, além de revelar a beleza dos cultos ancestrais.
O coreógrafo é considerado uma das maiores autoridades em tradições da música e dança afro - brasileiras, já tendo criado mais de 100 coreografias e dividiu seu conhecimento em diversos países do mundo, dando aulas em universidades nos Estados Unidos e na Europa. Como professor do Sesc Bahia, na unidade do bairro de Nazaré, King formou gerações de bailarinos e ainda hoje, aos sábados, dá aulas gratuitas na Escola de Dança da UFBA, ainda propiciando que jovens dançarinos possam ter contato com o Mestre.
Bruno de Jesus, Artista da dança- Bailarino, coreógrafo, produtor e diretor artístico.
Formação - Escola de Dança da Fundação Cultural do Estado da Bahia FUNCEB (2010) e Licenciatura em Dança na Universidade Federal da Bahia (2015). Diretor e coreógrafo da ExperimentandoNUS Cia. De Dança a qual fundou em 2008 com mais de cinco espetáculos em seu repertorio. Assinou a coreografia e direção do espetáculo Mistura Brasileira da CDRS Companhia Rodas no Salão com atletas dançarinos cadeirantes – Festival Orphèe, em Versailles França (2011). Integrou a mesa no I Seminário de Criação em dança 2014 realizado pela FUNCEB em parceria com UFBA. Em 2014 estreia o espetáculo RAIMUNDOS uma homenagem aos 50 anos de carreira do precursor da dança afro brasileira, Raimundo Bispo dos Santos, Mestre King, integrando programações de importantes encontros e festivais de dança, como desdobramento do espetáculo idealizou e assina a direção do Documentário RAIMUNDOS: Mestre King e as figuras masculinas da dança na Bahia. Participou do Curta metragem documental da Encouraçado Filmes que discute a presença negra na arte contemporânea e Filme documentário Revolta dos Búzios. Interessado no processo de formação, produção e criação em dança, atua como educador no semiárido baiano, na cidade de Tremedal criando o grupo infantojuvenil Piradança do Instituto Adelmário Pinheiro. Atualmente coordenador de produção do AbriU Dança na Bahia.
Fundo de Cultura do Estado da Bahia (FCBA) – Criado em 2005 para incentivar e estimular as produções artístico-culturais baianas, o Fundo de Cultura é gerido pelas Secretarias da Cultura e da Fazenda. O mecanismo custeia, total ou parcialmente, projetos estritamente culturais de iniciativa de pessoas físicas ou jurídicas de direito público ou privado. Os projetos financiados pelo Fundo de Cultura são, preferencialmente, aqueles que apesar da importância do seu significado, sejam de baixo apelo mercadológico, o que dificulta a obtenção de patrocínio junto à iniciativa privada. O FCBA está estruturado em 4 (quatro) linhas de apoio, modelo de referência para outros estados da federação: Ações Continuadas de Instituições Culturais sem fins lucrativos; Eventos Culturais Calendarizados; Mobilidade Artística e Cultural e Editais Setoriais.
14.07 - QUI - 19h00 - Apresentação do espetáculo "Negrume", do artista Viana Junior, no Teatro Gregório de Mattos;
14.07 - QUI - 19h45 - Suíte do espetáculo "Raimundos", no Teatro Gregório de Mattos;Entrada: R$ 20 e R$ 10
14.07 - QUI - 20h30 - Lançamento de videodocumentário "RAIMUNDOS: Mestre King e as figuras masculinas da dança na Bahia", no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha. Entrada Gratuita
15.07 - SEX - 19h00 - Apresentação do espetáculo "Raimundos", no Teatro Gregório de Mattos
15.07 - SEX - 19h45 - Exibição do videodocumentário "RAIMUNDOS: Mestre King e as figuras masculinas da dança na Bahia", no Teatro Gregório de Mattos. Entrada: R$ 20 e R$ 10
16.07 - SAB - 19h00 - Da própria pele, não há quem fuja,
16.07 - SAB - 20h00 - Exibição do videodocumentário "RAIMUNDOS: Mestre King e as figuras masculinas da dança na Bahia", no Teatro Gregório de Mattos. Entrada: R$ 20 e R$ 10
Fonte : SECULT BA (14/07/2016 16:24) - julho 2016
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