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ADEUS BAHIA

Embarcado em seu degredo e postos os olhos na sua ingrata patrialhe canta desde o mar as despedidas, Gregório Mattos escreve Adeus Bahia.

Adeus praia, adeus Cidade,
e agora me deverás,
Velhaca, dar eu adeus,
a quem devo ao demo dar.

Que agora, que me devas
dar-te adeus, como quem cai
sendo que estás tão caída,
que nem Deus te quererá.

Adeus Povo, adeus Bahia,
digo, Canalha infernal,
e não falo na nobreza
tábula, em que se não dá.

Porque o nobre enfim é nobre,
quem honra tem, honra dá,
pícaros dão picardias,
e inda lhes fica, que dar.

E tu, Cidade, és tão vil,
que o que em ti quiser campar,
não tem mais do que meter-se
a magano, e campará.

Seja ladrão descoberto
qual águia imperial,
tenha na unha o rapante,
e na vista o perspicaz.

A uns compre, a outros venda,
que eu lhe seguro o medrar,
seja velhaco notório,
c tramoeiro fatal.

Compre tudo, e pague nada,
deva aqui, deva acolá
perca o pejo, e a vergonha,
e se casar, case mal.

Com branca não, que é pobreza,
trate de se mascavar;
vendo-se já mascavado,
arrime-se a um bom solar.

Porfiar em ser fidalgo,
que com tanto se achará;
se tiver mulher formosa,
gabe-a por esses poiaes.*

De virtuosa talvez,
e de entendida outro tal,
introduza-se ao burlesco
nas casas, onde se achar.

Que há Donzela de belisco,
que aos punhos se gastará,
trate-lhes um galanteio,
e um frete, que é principal.

Arrime-se a um poderoso,
que lhe alimente o gargaz,
que há pagadores na terra,
tão duros como no mar.

A estes faça alguns mandados
a título de agradar,
e conserve-se o afetuoso,
confessando o desigual.

Intime-lhe a fidalguia,
que eu creio, que crerá,
porque fique ela por ela,
quando lhe ouvir outro tal.

Vá visitar os amigos
no engenho de cada qual,
e comendo-os por um pé,
nunca tire o pé de lá.

Que os Brasileiros são bestas,
e estarão a trabalhar
toda a vida por manter
maganos de Portugal.

Como se vir homem rico,
tenha cuidado em guardar,
que aqui honram os mofinos,
e mofam dos liberais.

No Brasil a fidalguia
no bom sangue nunca está,
nem no bom procedimento,
pois logo em que pode estar?

Consiste em muito dinheiro,
e consiste em o guardar,
cada um o guarde bem,
para ter que gastar mal.

Consiste em dá-lo a maganos,
que o saibam lisonjear,
dizendo, que é descendente
da casa do Vila Real.

Se guardar o seu dinheiro,
onde quiser, casará:
os sogros não querem homens,
querem caixas de guardar.

Não coma o Genro, nem vista
que esse é genro universal;
todos o querem por genro,
genro de todos será.

Oh assolada veja eu
Cidade tão suja, e tal,
avesso de todo o mundo,
só direita em se entortar.

Terra, que não parece
neste mapa universal
com outra, ou são ruins todas,
ou ela somente é má.

Poema : Gregório de Mattos


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