SALVADOR - O NOME CORRETO

Há muito que me vem martelando a cabeça a idéia de escrever algo objetivando protestar contra o uso do nome errado da capital baiana, cujo equívoco é tão comum a milhões de brasileiros, principalmente a baianos, que não deveriam errar chamando a sua capital, que por sua vez já foi a primeira capital do Brasil, de “São Salvador”. A nossa vetusta e acolhedora cidade, desde fundada em março de 1549, nunca foi batizada com este nome, e, pelo que me consta, nunca houve cidade, no Brasil, com o nome de “São Salvador”.
A nossa cidade sempre se chamou “Cidade do Salvador”, ou, simplesmente, “Salvador”. Este equívoco já vem sendo cometido há muitos e muitos anos. O que provavelmente aconteceu – acredito – é que o papa da época, ao expedir o decreto papal criando a “Diocese de São Salvador”, a qual posteriormente passou a ser chamada, oficialmente, de “Diocese de São Salvador da Bahia”, criou, também, involuntariamente, uma confusão, vez que passaram a chamar a cidade de “São Salvador”. Acrescente-se que na época havia uma outra cidade, esta na América Central (San Salvador, capital de El Salvador).
Hoje, todavia, o nome desta cidade não mais existe, porque ela passou a se chamar de “Salvador”. Não há, como se constata, possibilidade de incorrer em erro. Por ocasião da fundação da Cidade do Salvador, Sua Santidade nomeou o bispo Dom Pedro Fernandes Sardinha ou Dom Pero Fernandes Sardinha, que, como se sabe, foi trucidado pelos índios caetés, à altura da Ilha de Itaparica. (Em outra oportunidade, quando escrever sobre a “Fundação da Cidade do Salvador”, falarei sobre este episódio). Assim, a nossa cidade, ao longo dos seus quase 500 anos de existência, permanece com o seu nome original.
O que existe com o nome de “São Salvador”, ou que existiu, foi a “Diocese de São Salvador”, que de certos anos para cá foi promovida a “arquidiocese”, com a nomeação de um arcebispo, posteriormente transformada em “cardinalato”. Gostaria de dizer, já que muita gente desconhece: o cardeal da Bahia é o único que tem o direito de ostentar o honroso título de “Primaz do Brasil”, designado pelo papa, quando da sua nomeação.
A propósito do erro no nome, há alguns anos encontrei-me, em Roma, com um grupo de sacerdotes brasileiros que na ocasião fazia um estágio de estudos teológicos, no Vaticano. Sabendo que eu era brasileiro, perguntaram-me em que estado havia nascido. Tendo lhes respondido que eu era de Salvador, retrucaram: “De São Salvador”? Paciência, que fazer? Parecia que eu é que tinha errado... (Estou intercalando o assunto com estas minhas histórias, para ver se consigo erradicar melhor, o erro).
Muitos brasileiros, aliás, têm pago por este equívoco que vem perdurando ao longo dos anos, quando postam, na Europa ou nos Estados Unidos, suas cartas ou suas encomendas, destinadas a “São Salvador”, mesmo tendo colocado como complemento, a palavra “Brasil”. Ocorre que em seguida elas são enviadas a “El Salvador”, para, depois de um mês ou dois, aqui chegarem com o carimbo “mal encaminada a El Salvador”. Que o diga o correio salvadorenho ou o salvadorense (não gosto de chamar o natural de Salvador, de “soteropolitano”. Soa-me como um termo pernóstico, e, portanto, antipático). Sei que no Brasil muitos preferem manter-se no erro. Fica melhor, mais cômodo, principalmente se ele já virou rotina. Mas, para estes só me resta apelar para a velha máxima latina, que diz: Errare humanum est permanere in errore est malitia maxima.
Como se verificou, esgotei repetitiva e exaustivamente, o assunto, na esperança da eliminação do erro. Vou fazer o possível para que algum jornal local publique esta modesta crônica, e, entrementes, vou enviar uma cópia da mesma para a Prefeitura Municipal, outra para a Câmara de Vereadores da Cidade do Salvador, uma para o IBGE, e a outra para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, de modo que ninguém, mas ninguém mesmo, volte a incidir no erro, sob alegação de ignorância. Aliás, o nosso maior cancioneiro vivo, de cujas músicas sou fã ardoroso, não disse em uma das suas belas canções “nas sacadas dos sobrados/ da velha São Salvador/ há lembranças de donzelas/ do tempo do Imperador”? Pode ser que ele tivesse querido imprimir, naquela sua música, um maior romantismo. Luiz de Camões não cometeu, nos Lusíadas, alguns cacófatos? Quem há de contestá-lo?
Vou pedir, também, às empresas de navegação aérea para que não mais mencionem, nos seus impressos de passagens, nos seus conhecimentos de embarque ou nas suas etiquetas de bagagem, quanto tiverem de mencionar o destino, a palavra “São Salvador” ou a abreviatura “SSA”. Parece-me que o engano delas tem contribuído, ainda mais, para a conservação do erro. A abreviatura de “SSA” poderia ser trocada, por exemplo, “SDR” ou “SAL”. (Aliás, com a utilização desta última abreviatura poderia haver outra confusão, pois existe a Ilha do Sal. Mas poderia ser “SVR”, ou por outra que melhor acharem). (Ovo de Colombo).

texto : Almir Freire Protásio



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