Festival de Verão, não deu pra ninguém
3ª edição Festival de Verão Salvador

Não deu para ninguém. Os requebros de É o Tchan, no palco principal do Parque de Exposições, na última sexta-feira, sucedidos pela Bomba do Braga Boys e, em seguida, pela contagiante performance do Jota Quest, não foram suficientes para fazer sombra à simples presença de Chico Buarque. Ele mesmo. Com seus olhos verdes e sorriso inconfundíveis reverendando o genro Carlinhos Brown, subindo ao palco para cantar uma única música, João e Maria, em ritmo timbaleiro.
Todas as câmeras estavam voltadas para o camarim número 8, onde Brown, ao lado da mulher, filhos, sogro e outros, aguardava a hora de mostrar o que não pôde no palco do Rock in Rio. Quando Chico, sem saber (ou de propósito), deu o ar da graça saboreando uma ameixa, já havia sido transformado em alvo da imprensa e dos fãs. Você vai cantar? “Não. Só se me convidarem”, revelava, traído, minutos antes, por um genro esfuziante, que já havia anunciado a canja do sogro e a de Arnaldo Antunes.
Algum disco novo? Também não. Por enquanto, Chico dedica-se ao musical do casal João e Adriana Falcão, com estréia prevista para abril, em São Paulo, com trilha assinada por ele e Edu Lobo. Mas, claro: o musical vai virar disco. E, depois da estréia, o artista passará a compor um trabalho autoral.
A presença de Chico no Parque de Exposições não conseguiu ser quebrada nem mesmo pela de Hebe Camargo e a de Alexandre Pires. Na segunda música puxada por Brown, ele foi ver de perto. Voltou na quarta e esbarrou com a porta fechada do camarim. Mais fotos, mais poses para os fãs, mais rápidas entrevistas. Salvo, adentrou no espaço e trocou a camisa azul por um amarela. Quatro canções passaram-se e ele atendeu ao chamado.
Sorridente, cantou João e Maria vendo o genro dançar ao seu redor. Depois, inesperadamente, vendo Brown dar vários pulos, pulou junto. Finda a música, saiu em disparada e entrou num carro que já estava à sua espera. Foi a grande sensação da noite. Uma espécie de “tapa na cara” (num bom sentido) para o público metaleiro do Rock in Rio, que vaiou Carlinhos Brown. Afinal, estava ali, no palco, um dos maiores nomes da MPB, da boa MPB, despido de preconceitos.
Antes de começar o espetáculo, Brown falou, rapidamente, com a imprensa e, depois, também. “Adoram me colocar numa polêmica. Já foram dizer que eu teria dito que nunca cantaria Tapa na Cara. Ora, as pessoas têm que se expressar. Tapa na Cara só não vale se for de verdade”.
E o vexame do Rock in Rio? “Passei um momento de glória. Fui para lá falar de paz e foi isso o que fiz. Sou um artista de postura, não sou moldado a nada. É bom ter o dom da transformação. Quero transformar. Ou não. Não repito um show, não repito nada. Não sou de me repetir”. Um Brown revigorado.
Depois, bom, depois teve Ara Ketu, Belo e Cheiro de Amor. O Parque de Exposições não estava lotado, até porque era 2 de fevereiro. Quem foi até lá, no entanto, não se decepcionou. Havia de tudo um pouco e, de quebra, os olhos d’água de Chico Buarque, sob a bênçãos de Iemanjá.


Fonte : Ludmila Carvalho - fev 2001


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