Na Bahia, Riachão é o retrato fiel de uma malandragem que não volta mais. No Brasil, é reconhecido como o maior nome vivo do samba daquele Estado. Em 82 anos, foi alfaiate, contínuo e vendedor, mas nunca abandonou a música. Ganhou ouvidos de todo o país por meio de vários intérpretes, como Jackson do Pandeiro (que gravou Saia Rôta e várias outras), Caetano e Gil (Cada Macaco no seu Galho) e Cássia Eller (Vá morar com o diabo). Há pouco tempo, voltou à cena graças ao CD Humanenochum, lançado em 2000, e ao documentário Samba Riachão, de Jorge Alfredo, um dos vencedores do Festival de Brasília de 2001, ainda inédito no circuito comercial.
Ainda assim, o Rio o conhece pouco. Foram duas ou três apresentações apenas e há muito tempo. Agora, Riachão está por aqui para começar uma temporada de lua-de-mel com a cidade, com a qual ele diz ter uma dívida de gratidão.
"Infelizmente, a Bahia não está mais interessada em samba. Quero agradecer ao Rio a capacidade que a cidade tem de amar e manter esse tipo de música", diz Riachão, que chegou a ser apresentado como "o cronista musical de Salvador", por suas composições baseadas em histórias da cidade.
A recepção de Riachão na cidade não deixou a desejar. A temporada carioca começou com um bate-papo com o compositor carioca Walter Alfaiate, que se assemelha ao baiano no amor ao samba e às agulhas. Além disso, já estão esgotados os ingressos para o show Bahia de todos os sambas, de hoje a domingo, no Centro Cultural Banco do Brasil.
O espetáculo - parte de uma série que pretende mostrar as diferentes roupagens do gênero nos vários estados do país - vai ter ainda a participação do conterrâneo Roque Ferreira, compositor de samba-de-roda e outros convidados. Depois, fica pela cidade para gravar, a jato, um novo disco, que vai contar com a participação de sambistas cariocas e deve chegar às lojas em março.
Enquanto passeia pelo Rio, Riachão mostra que a malandragem nunca deu um tempo em sua biografia. A começar pela indumentária rotineira: camisa social aberta no peito, correntes douradas e prateadas no colo e nos pulsos, boina e toalhinha em volta do pescoço ("à moda dos capoeiras da minha terra"). Se muita gente fica zangada quando é chamada de malandro, ele vê na designação o maior elogio que possa receber. Em Fazenda Garcia, bairro onde nasceu e vive até hoje em Salvador, aprendeu que a palavra não deve ser usada de modo pejorativo.
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