Os fãs do cantor Netinho, que aguardavam com tristeza seu discurso de despedida do Carnaval e da axé music, para seguir carreira pop-romântica, respiraram aliviados pelo menos no domingo. Ele comandou o bloco Inter com a mesma empolgação, apesar de não ter lançado música nova este ano. "Preferi homenagear grandes músicas do nosso Carnaval", justificou. Ele cantou músicas de Armandinho, Dodô e Osmar, emocionou os foliões com "o eterno hino do Carnaval de Salvador", referindo-se a We are the world of Carnaval..., e não esqueceu de homenagear "os que moram lá no morro", cantando a música Barracos.
"Esta é uma triste realidade que ainda impera em muitos lugares de Salvador", registrou. Apesar das lembranças de outros carnavais, Netinho também fez questão de cantar sucessos deste ano, como Maimbê e Eu tô solteiro em Salvador. Ele foi econômico nos discursos, limitando-se a saudar o escritor João Ubaldo Ribeiro, autor de Viva o Povo Brasileiro (tema do Carnaval), a dizer que o prefeito Antonio Imbassahy vai deixar saudade (termina o segundo mandato este ano) e a cumprimentar outras autoridades.
Torrando no sol de 13h30, sem a proteção sequer de um boné, o cantor agitava os foliões do Inter, das arquibancadas e camarotes do Campo Grande. Bastava ele gritar "atenção malhados e piriguetes" para a turma ir ao delírio, encarnando os personagens. Era o caso da estudante e comerciária Renata Soares, fã "de carteirinha" de Netinho, que pulava e gritava a cada convocação para sair do chão. Ela confessava ter tido medo do desfile ser melancólico, "com gosto de despedida". Mas, aliviada, vibrou com a passagem do ídolo e alimentou a esperança de ele ter desistido de se mudar, "de mala e cuia", para outro cenário musical.
Só que, pela convicção com que o cantor anunciou, em micaretas anteriores, que este seria seu último Carnaval puxando bloco, ela sabia que a despedida deveria ter sido apenas adiada por mais dois dias. E se conformava, como boa tiete, argumentando que ele também seria seu ídolo na esfera da MPB.
Foram muitas as manifestações dos fãs de Netinho, expressas em cartazes improvisados que exibiam tanto das arquibancadas quanto em frente às câmeras de televisão. Um deles dizia: "Netinho, você é 1000", traduzindo o sentimento dos demais. A passagem do cantor baiano, natural do município de Santo Antônio de Jesus, foi acompanhada de perto também por um grupo de portugueses. É que Netinho se consagrou como um ídolo em Portugal, participando de micaretas em diversas cidades.
O cantor está com novo CD pronto para ser lançado, provavelmente em março, pela Universal, já no novo estilo MPB. O disco inclui antigos sucessos de Jorge Ben Jor (Taj Mahal, Zazueira e Mais que nada), Chico Buarque (Vai passar), Tom Jobim (Corcovado) e Rita Lee (Lança perfume), entre muitos outros.