Pé-de-ouvido / DURVAL LELYS Asa maior
de idade Ceci Alves
Como presente aos leitores,
Sotaque Baiano oferece um entrevistado especial: o cantor e puxador de bloco
Durval Lelys, que, apesar da irreverência que demonstra em todo Carnaval,
abriu as portas do estúdio para falar sério de carreira, música baiana e axé
business. Sem, claro, deixar o bom humor de lado e contar as novidades do Asa
para 2006. A TARDE – Vai ter disco de carreira este
ano? Durval Lelys – Não, a gente vai fazer DVD. Vamos gravar o DVD
no Bonfim Light e estamos tentando entrar em acordo com o Iphan (Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) para gravar o DVD no Forte São
Marcelo, uma edificação com a cara da Bahia. E, por ser um forte, é uma
estrutura muito boa para se fazer uma adaptação. É claro que a gente está
consultando os técnicos do Iphan para fazer isso. A gente vai criar a nossa
Ilha da Fantasia e fazer essa gravação para duas mil pessoas convidadas – um
DVD mais cinematográfico. Lógico que a gente já tem um caminho andado para dar
tudo certo. Mas, a gente só quer divulgar, mesmo, quando tiver todas as
autorizações, tudo direitinho e tal. Mas, pode dizer que essa é a nossa
intenção. Como assim, um DVD mais
cinematográfico? É porque a gente tá contratando uma diretora que
fez o DVD de Sandy & Jr. e Chitãozinho & Xororó (Flávia Moraes), que é
uma pessoa muito ligada ao cinema. Como o Asa de Águia tem irreverência e
originalidade, a gente pensou em contratar um circo para brincar... Uma coisa
meio interativa, que a gente estivesse lá tocando uma música, mas tivesse
grupos cênicos, mágico... Sei lá, uma coisa muito louca, mas que precisa da
direção de alguém de cinema, e não de ficar só filmando um show. Se fosse
assim, eu ia para um lugar de 50 mil pessoas, fazia o show e gravava. Mas
queria fazer uma coisa que mostrasse um pouco do lado pinkfloydiano do Asa de
Águia. A gente quer mostrar uma produção à altura, gravada em película, como
eles chamam... Coisa de cinema, pegar o pôr-do-sol, a noite, os fogos, as
pessoas indo de barquinho pra lá, parecendo uma coisa
fantástica. Como vai ser o repertório? A história
do Asa. Não é um DVD de lançamento, de show do Asa de Águia. Lógico que é um
show, mas um que conte essa história. Não vai ter CD de
carreira para o Carnaval. Mas vai haver músicas novas? Vai sim. A
gente tá botando as músicas nas rádios, e depois elas vão para o DVD. É que só
vai dar pra botar duas ou três. Tenho várias músicas já pré-produzidas. Mas,
agora, tem que escolher, que é a parte mais difícil de
todas. O Asa participa do Festival de Verão
2006? Vamos! Tá tudo certo. Ano passado, a gente é que vacilou. Mas
corremos este ano e já fechamos. Você é o único que não tem 25
anos de nada em 2005? [risos] Na verdade, a gente vai fazer 18,
agora, de Asa. Então, nós somos uma banda relativamente nova, embora eu tenha
outros oito anos de experiência. Poderíamos comemorar nossa maioridade...
Olha, a Sotaque Baiano acaba de me dar essa idéia para o DVD: "O Asa atinge
sua maioridade; fez 18 anos!". Pronto! É isso aí, gostei da
idéia... Com todos esses anos de carreira, qual o saldo desses
20 anos de axé music? O Carnaval da Bahia já teve vários apelidos,
como se as épocas fossem marcando os seus conceitos. Agora, axé music é um
apelido que deram a esse movimento. É uma forma de falar da música baiana por
um apelido, como eu tenho Durvalino, meu Rei. Axé music é o movimento
carnavalesco da Bahia, em cima de trio elétrico. Mas, é meio polêmica essa
denominação, porque existem artistas como Daniela, como o Olodum, Carlinhos
Brown, Ivete, que fazem carreira internacional e não são só axé. Talvez quem
faça mesmo esse tipo de trabalho seja bem poucas bandas, o Asa de Águia é uma
delas, Chiclete com Banana ou o Ricardo Chaves. E o axé
resiste mais 20 anos? Lógico. Porque o Carnaval e o futebol são
heranças do povo brasileiro. O Carnaval está se
elitizando? Há 15 anos, fui a uma reunião na prefeitura. Aí, eu
disse: "Dentro do circuito do Carnaval da Bahia, deveria haver um circuito
privado". Todos bradaram: "Você é maluco, não fale isso, não!" Eu acho que
deveria ser assim, para não ficar brigando com isso e dizer: "Pôxa, fulano se
aproveitou da situação, montou isso, montou aquilo e tal..." Venha cá, quando
acabava o Carnaval de rua, antigamente, não tinha festa de clube e um bocado
de evento privado? Por que não ter um Axé Folia, que o cara pagasse para ir?
Qual é o preconceito de ter ou de não ter? Porque tudo é privado! Se você vai
sair nos Apaxes, tem que pagar; se vai no camarote, tem que pagar. No de
Durval, de Ivete, a mesma coisa. E, se vai sair na avenida, tem que pagar
arquibancada. Então, que preconceito é esse que as pessoas têm do nome
"privatização", se tudo é privatizado? O que é de graça no Carnaval? A galera
passar na rua? Vamos falar de você: por que se casou na
surdina? Porque nunca gostei de festa de casamento. Acho que a
festa em si é sempre um sufoco. Aquela noiva, a roupa, a roupa do
não-sei-o-quê, a igreja, o padre... Eu acho que, agora, se eu casasse no
religioso, não ia ter sufoco. Eu já casei, mesmo... O sufoco é a expectativa e
não curto. E esse filho, agora? Já tem nome? É
filha! O nome deixei para ela [Thiara], já que é mulher. Se fosse homem, quem
ia botar era eu, e ia ser Ted: Terror das Empregadas
Domésticas... E aí? Vai fazer o quê com a fantasia? O Bebelino caiu? Eu não sei ainda, porque tive um ano atípico.
Casamento, a menina... Lógico, já sinto a gravidez da minha mulher – já está
com seis meses –, o carinho, aquela expectativa, mas a minha ficha não caiu
ainda para a criança. E não viajei no personagem ainda não... Falaram no
Bebelino, Babylino, mas é mulher, não dá... Eu não vou fazer bebê pra filha,
aí ia ser um bebê gay! Eu vou esperar bater aí uma viagem
qualquer. Como vai ser o Carnaval 2006 do Asa? Vai
ser legal, porque a gente vai lançar em Salvador o Dragão da Folia, o maior
trio elétrico do mundo. Nós o lançamos agora em Fortaleza e ele é o primeiro
trio articulado. Ele é um cavalinho, com dois vagões, que nem aqueles
ônibus-sanfona. Ao todo, ele tem 37 metros, com uma bola no meio. Atrás vão os
convidados e, na frente, vai a banda. E ele ainda vai ser o primeiro trio
estéreo do mundo, por ter duas laterais.
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