É a primeira vez que faz um espectáculo em Aveiro. Como espera ser recebida pelo público aveirense?
Com a mesma doçura que os doces dessa cidade. Não conheço Aveiro, mas conheço muitos doces da cidade. Sou filha de portugueses e, sempre que vou para aí, tenho de trazer para casa doces de Aveiro para mim e para a minha família, nomeadamente ovos-moles que amo.
Que género de espectáculo vai apresentar hoje à noite?
É o concerto do novo show do "Balé Mulato". Também canto algumas canções que estão no DVD - que foi o primeiro gravado no Carnaval -, e que vai ser lançado em Portugal, logo de seguida, e que se chama Baile Barroco. Esse show já estreou no Rio de Janeiro e em São Paulo e teve uma repercussão muito bonita. É um show que tem um cenário com dourados e coloridos, com influência do barroco, que é muito importante. Eu uso influências do período colonial e do estilo barroco em todo o cenário. Os músicos estão com o rosto pintado, lembrando personagens de Carnaval, como o pierrot, para que as músicas trespassem por esse filtro lúdico que são as máscaras.
A sua música tem uma relação muito forte com o Carnaval?
Têm. Para mim o Carnaval é uma manifestação cultural, que acaba por somar dezenas de influências. Grande parte da nossa identidade, independentemente de ser sempre relacionada com a festa, é uma música impregnada de elementos brasileiros e estrangeiros, que traduz um pouco da nossa contemporaneidade. O Carnaval, como existe hoje, no contexto profissional, é para mim um grande festival de música de rua e que ao mesmo tempo mantém características da tradição.
É, portanto, um espectáculo colorido?
Sim. É um espectáculo em que eu apresento várias músicas do disco novo e que são muito agradáveis de ouvir e dançar, como "Pensar em Você", de Chico César, e "Topo do Mundo", que está a ser trabalhada em Portugal (foi escolhida para o single de apresentação do disco), além das músicas alegres, como "Meu Pai Oxalá" ou "Olha o Ghandhi Aí". Canto também dos meus discos anteriores as músicas "Só no Balanço do Mar", do Lenine; "Feijão de Corda" e "Nobre Vagabundo", por exemplo. Eu vou entremeando muito, mas começo com "Aquarela do Brasil", do novo álbum. Falo sempre da relação de Portugal com o Brasil, parece que somos um só país, porque a gente entende-se tanto...nem vocês sabem quanto nós somos vocês! Apesar de ser filha de portugueses, apanhei um pouco a mistura africana daqui do Brasil! No show de logo à noite entram quatro percussionistas, a banda inteira participa. Eu faço uma performance de percussão com panelas, as quatro bailarinas entram com bacias na cintura, que tocam, e onde eu toco também. É um show dinâmico, vibrante e ao mesmo tempo tem momentos calmos. O cenário é muito bonito, tem 14 pessoas em palco, levo figurinos alegres. Tem muitas canções no "Balé Mulato" que são em homenagem a Portugal, porque me lembra muito o Vira e o bandolim a guitarra portuguesa. Vou cantar especialmente para Portugal, porque a minha relação com esse país é tão forte, tão bonita, tão respeitada, que tenho de manter essa troca viva o tempo inteiro da cultura e da nossa alma.
Em Aveiro fará o primeiro de três concertos no nosso país. Segue-se esta semana um no dia 26, no Coliseu do Porto, e outro a 27, no Coliseu de Lisboa?
Sim, em Portugal é a primeira vez que apresento este show, concretamente em Aveiro.
Porquê Aveiro?
Foi um convite da cidade. Eu achei uma óptima oportunidade para conhecer outras pessoas que não dos grandes centros, que são Porto ou Lisboa. A presença é insubstituível! Não tem DVD que resolva a questão de nos verem ao vivo.
Pretende regressar em breve ao nosso país depois destes três espectáculos?
Tenho vários concertos na Europa e vou também a outras cidades de Portugal, a partir de Junho. Estarei na Alemanha, onde vou fazer a maioria das apresentações. Vou também à Itália, Suíça, Espanha, mas a maioria dos shows, durante dois meses, será na Alemanha por causa do Mundial de futebol.
As influências electrónicas foram postas de lado neste novo disco para privilegiar o axé e o samba. Porquê?
O "Balé Mulato" é um disco que lembra muito os meus anteriores. É um pouco de tudo o que eu fiz, mas tem uma relação muito forte, em termos estéticos, com os discos "Feijão com Arroz" e "Sol da Liberdade". Este novo disco não é electrónico. É como se fosse a minha identidade. Foi uma pesquisa que trouxe um outro olhar sobre as minhas músicas e outras misturas.
Pretende fazer uma pausa na electrónica?
Não necessariamente. Este é um disco de carreira. O disco "Carnaval Electrônico" era um projecto especial, logo podia fazer qualquer coisa. Já num disco de carreira, as minhas pesquisas vão permeando esse universo percussivo, mas estou aberta a fazer projectos especiais, diferentes e a abrir novos horizontes.
Como recorda a experiência com a electrónica?
Adorei. Foi muito interessante, porque é um tipo de música completamente aberta à criatividade e muito livre. Não tem tantas amarras como a música já estabelecida. Nesse sentido dá-me oportunidade de criação e de liberdade, mas se vier, virá claramente em projectos especiais e definidos. Provavelmente não serão discos de carreira, a não ser que eu amadureça ao ponto de fazer o que fiz no disco "Sou de Qualquer Lugar", uma mistura, mas não totalmente electrónico. Eu gosto muito do lado acústico. Sempre disse isso. E, em vez de fazer remixes, já vi que é muito divertido fazer projectos como o "Carnaval Electrônico" para tocar nos clubes e em lugares onde a música electrónica funciona. O "Balé Mulato" é para tocar em shows e é mais próximo do que já fazia em discos anteriores. Não é um trabalho que se repete, é diferente dos outros, mas tem a minha identidade, que já é conhecida. Afinal de contas eu sou muito jovem e vinha em busca dessa identidade. Não foi fácil chegar até ela!
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