Daniela Mercury no Canecão Rio, como foi
Mulato, musical e cênico

Rio de Janeiro - Elementos cênicos, instrumentos improvisados, como tampas de panela, baldes e bacias, além de bailarinas que também tocam e interpretam canções com passos e movimentos precisos. No palco, uma rainha que canta, dança, ensaia ginga de capoeira e interpreta cada palavra com uma firmeza visceral que deixa o público extasiado. Nesse clima, com cenário do artista plástico Joãozito e iluminação de Irma Vidal, a baiana Daniela Mercury mostrou, anteontem e ontem, no Rio, o espetáculo Balé Mulato, em turnê nacional, aberta em São Paulo dia 11 de Março. A direção cênica é de Antrifo Sanches e a geral, da própria cantora.
Apesar de considerada, muitas vezes, elitista e pouco popular, Daniela mostra com o espetáculo que tem intimidade com o que vem das ruas da Bahia e dos morros cariocas, que já serviram de cenário para as fotos do encarte do disco (EMI), produzido por Ramiro Musotto, e do videoclipe. A plasticidade de Balé Mulato ganha força nos detalhes e nos adereços: músicos aparecem de cara pintada, máscara de baile; dançarinas usam saias feitas de bacias de alumínio e aproveitam para tirar som daí com o auxílio de baquetas.
Descontraída, a própria Daniela brincou com os músicos e a platéia, e até arriscou uma palhinha do pagode baiano com seu bailarino. Logo na abertura da apresentação, quando se levantaram as cortinas de chita com estampas dos morros ao som de Aquarela do Brasil, ela prestou uma reverência à capoeira, com berimbau e muito gingado, para mostrar Levada Brasileira (capoeira dim, dim, dim), melhor música do Carnaval baiano.
O efeito visual da produção causou impacto no público que, até a terceira música, permanecia na condição de espectador. Porém, basta Daniela cantarolar, a capela, a primeira estrofe do hit Nobre Vagabundo, para que os fãs começassem a acompanhá-la em coro. Isso se repetiu em Prefixo de Verão, hino da folia baiana incluído no repertório para matar as saudades da festa de Salvador.

ENTREGA - Balé Mulato é um show que cresce na medida que Daniela se entrega ao público. Tem muita técnica e qualidade, a única coisa que se sente falta é um pouco mais de comunicação verbal da cantora com a platéia no início, embora isso se resolva ao longo do espetáculo.
Mais do que em produções anteriores, a cantora se mostra muito visceral na interpretação de canções que falam de amor e das contradições da vida e do cotidiano. Soa assim quando canta Topo do Mundo, canção já gravada pelo Cidade Negra, mas que ganha força na voz da baiana. Com Nem Tudo Funciona de Verdade e Pensar em Você (na trilha da novela Belíssima), ela coloca em evidência dois dos compositores prediletos, Lenine e Chico César, respectivamente.
Daniela também encontra espaço para homenagear a cultura afro-brasileira, sobretudo, com a presença de bailarinas que fazem referência ao afro Ilê Aiyê nas músicas Que Bloco é Esse, O Mais Belo dos Belos e Pérola Negra. E foi em Pérola Negra que o público se surpreendeu com as bailarinas Geovana (filha de Daniela), Daniela e Joelma, que dançam e tocam bumbos, com evoluções e movimentos inspirados na bateria do Olodum e de outros grupos afros do Pelourinho.
Mesmo em uma casa como o Canecão, na qual o público aprecia o show sentado, os primeiros acordes de Maimbê funcionaram como senha e a permissão para se contagiar e explodir. Traga a avenida com você/ Estava esperando Maimbê... é o bastante para que todo mundo já se sinta um folião-pipoca. ¿Que a alegria do Carnaval seja todos os dias neste País¿, sugeriu a artista.
Daniela foi acompanhada pela banda, integrada por Alexandre Vargas (guitarra), Gerson Silva (guitarra), Diógenes Senna (teclados), Júlio César (baixo), Ramon Cruz (bateria), Cláudio Alves (percussão), Daniela Penna (percussão), Emerson Taquari (percussão), Rudson Almeida (percussão), Gil Alves e Joelma Silva (vocais).


Fonte : Marcia Ferreira Luz, Jornal aTarde - Março 2006


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