Em setembro, Caetano Veloso lança seu novo disco. Fará companhia a Carioca, o último de Chico Buarque, na praça já há três meses. No calendário de lançamentos dos dois artistas, é cada vez mais raro tê-los lado a lado nas prateleiras, com músicas inéditas. A última vez que isso aconteceu foi em 1993, quando Chico veio de Paratodos e Caetano festejou os 25 anos de seu movimento antropofágico particular ao lado de Gilberto Gil, com Tropicália 2.
Cê, título provável do trabalho de Caetano, reedita uma instituição musical da década de 70: a confluência entre o "disco do Chico" e o "disco do Caetano". "Era uma excitação. Sempre queria ouvir logo os discos, para saber por onde andavam as cabeças deles. Além de tudo, Caetano e Chico refletiam muito bem o momento do Brasil naquele tempo", recorda o cantor Ney Matogrosso. Na época, os fãs direcionavam para a música a radicalidade de opiniões que a ditadura militar já não permitia no campo político. Entre os fãs de Chico e Caetano, a rivalidade era tamanha no início dos anos 70, que levou os compositores a se unirem, em 1972, para gravarem o clássico Chico e Caetano - Juntos e Ao Vivo. "A rivalidade era mais um desejo que o seu favorito fizesse mais sucesso, mas quem preferia um também comprava o disco do outro", lembra o cineasta Cacá Diegues.
"O interessante era que eles representavam as duas principais vertentes da MPB. Sempre foram dois compositores extraordinários - e complementares", recorda o jornalista e produtor Nelson Motta, que sempre se manteve à parte das brigas entre os chicólatras e caetanófilos.
O cantor Luiz Melodia, por outro lado, pendia mais para o lado baiano. "No início da minha carreira, eu era mais chegado à turma do Caetano. Mas também acompanhava com grande interesse os lançamentos do Chico. Eles revolucionaram a nossa música, de certa forma, e essa força musical é muito importante", reflete.
O último disco de inéditas de Caetano Veloso foi Noites do Norte, lançado em 2000. Chico Buarque estava ainda há mais tempo sem gravar: seu trabalho anterior a Carioca foi As Cidades, de 1998.
Dois dos principais compositores brasileiros do século passado, eles "debutam" no novo milênio provocando a mesma expectativa que causavam nos primeiros anos de carreira. "Foram os dois grandes ídolos da minha geração", conta Cacá Diegues. "Cada disco novo deles fazia o País inteiro cantar suas músicas. São dois gênios, e sempre que um gênio se manifesta, alguma coisa acontece."
Jovens músicos
Caetano Veloso gravou o novo disco em apenas dois meses e foi econômico de diversas maneiras. Como Chico Buarque, que registrou apenas 12 músicas em Carioca, o baiano gravou uma dúzia de novas canções.
O CD foi produzido pelo guitarrista Pedro Sá e pelo filho mais velho de Caetano, Moreno. No estúdio, foi igualmente econômico. Apenas três músicos, bem mais jovens que Caetano, participaram das gravações: Pedro Sá, o tecladista Ricardo Dias Gomes e o baterista Marcelo Callado.
Cê será o 40º disco da carreira de Caetano. O cantor e compositor acaba de retornar de uma temporada de shows na Europa.
Enquanto não volta aos holofotes, Caetano tem se divertido em estúdio com companhias nada óbvias: na Itália, colaborou em um trabalho do compositor Ennio Moricone. Antes de viajar, havia participado de uma faixa do novo disco da rapper paulistana Negra Li..
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