O Centro Histórico de Salvador é um dos sítios de maior valor urbanístico, arquitetônico e paisagístico do país. Apesar, contudo, de todo este valor e apesar de toda esta beleza, processos equivocados de planejamento da expansão urbana drenaram desta parte da cidade, a partir dos anos 60, importantes funções direcionais, administrativas e comerciais, o que causou o esvaziamento e a deterioração de sua qualidade urbana e depreciou ainda mais o valor do seu estoque imobiliário.
Desde então se busca no desenvolvimento do turismo e na implantação de usos vinculados a essa atividade, uma nova vocação para o Centro Histórico, vocação vista como capaz de re-dinamizar sua economia e preservar o seu patrimônio.
Ao esvaziamento funcional causado pela perda de centralidade - esvaziamento que, mais recentemente, também atingiu a área do Comércio na cidade baixa – somou-se nos anos 90 o aprofundamento do esvaziamento habitacional causado pela transformação de parte significativa deste conjunto arquitetônico num espaço destinado exclusivamente ao consumo turístico e ao lazer. Espaço desvinculado e isolado da dinâmica habitacional e de uso existente na área central de Salvador e dos bairros contíguos. Espaço tão exclusivamente voltado para visitantes que ali, muitas vezes, moradores da área se sentiam estrangeiros.
Do ponto de vista da preservação do patrimônio urbano, muito se perdeu nesse processo artificial de substituição de uso. Ganhou-se, contudo, em consciência e experiência. Consciência de que não gera dinâmica de uso artificialmente; de que se o patrimônio atender às demandas da cidade, melhor ainda satisfará o desejo dos visitantes; de que o que dá vida aos setores urbanos é a vida cotidiana da população, é a presença de moradores.
A etapa mais recente desse programa marca o retorno do Centro Histórico à cidade, permitindo que o patrimônio urbano cumpra também uma de suas mais importantes funções sociais: proporcionar moradia digna a quem precisa e tem direito de permanecer onde está.
Nesta etapa do Programa Monumenta em Salvador, numa ação conjunta entre o Ministério da Cultura, o Iphan, o Ministério das Cidades e o Governo do Estado da Bahia, 75 imóveis serão recuperados, produzindo-se 306 unidades habitacionais e 62 comerciais e de serviço, voltados para parcela da população que mais demanda moradia no centro antigo. Os benefícios sociais dessa iniciativa são muito grandes, mas não são menores os benefícios urbanísticos em termos do aproveitamento mais intenso da infra-estrutura urbana implantada, da utilização do estoque imobiliário existente e da promoção e uma situação mais equilibrada, em termos de dinâmica e função, entre as centralidades principais de Salvador. Com mais gente nas ruas, meninos nas calçadas, escolas, padarias e lojas onde qualquer um pode entrar, os turistas certamente permanecerão mais tempo e desenvolverão também novos interesses por este setor da cidade.
Por fim, gostaria de parabenizar o Governo do Estado da Bahia – Secretaria de Cultura- pelo incentivo desse novo plano integrado e participativo para o Centro Histórico de Salvador, e a Associação de moradores e amigos do Centro Histórico, pois sua luta foi fundamental para que 103 famílias pudessem permanecer nesta área e para que hoje estejamos neste novo patamar.
Fala de Márcia Sant’Anna, Diretora de Patrimônio Imaterial do Iphan, na Inauguração de imóvel restaurado da 7ª etapa do CHS em 2007, e durante visita da, então, Ministra do Turismo, Marta Suplicy e do, então, Secretário-Executivo do MinC, hoje, Ministro da Cultura, Juca Ferreira.
Fonte : IPAC - 2007
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