A importância dos blocos afro e de afoxé para o Carnaval baiano e de que maneira o poder público municipal pode apoiar as ações desenvolvidas por esse segmento, foi o tema do primeiro Salvador em Debate de 2007, projeto desenvolvido pela Ouvidoria-Geral do Município desde o ano passado, que propõe aglutinar a sociedade organizada e órgãos municipais para discutirem questões de relevância social.
Emtursa, Secretaria Municipal da Reparação - Semur, ouvidores que compõem o Sistema Municipal de Ouvidorias, representantes do Fórum de Entidades Negras, Associação Educativa e Cultural Didá, Associação de Afoxés da Bahia, A Mulherada e outros protagonistas do Carnaval baiano estiveram reunidos durante toda a manhã de ontem (28), no auditório da Sefaz, no Centro, onde debateram e apresentaram propostas para equacionar problemas que ainda envolvem a participação desses blocos nos circuitos da festa.
Na abertura, o antropólogo Fábio Lima fez uma explanação contextualizando a resistência histórica desses grupos nas décadas de 30, 40, 70 até os dias de hoje e como folião, o mestre em Ciências Sociais e doutorando em Estudos Étnicos Africanos, ressaltou erros e acertos cometidos pelos organizadores do Carnaval e artistas, a exemplo do descaso com o encontro dos trios na Castro Alves e o impasse entre os circuitos Barra versus Campo Grande. Lima criticou o desrespeito de artistas renomados, durante o Carnaval, com relação a hierarquia dos blocos, à falta de respeito com as agremiações mais antigas na passagem dos trios e sobre este ponto, sugeriu aos presentes “que o Ministério Público seja acionado para corrigir atitudes motivadas pela arrogância e que prejudicam o andamento do desfile.”, enfatizou.
Na avaliação de Walmir França, presidente do Fórum de Entidades Negras- formado por 14 entidades, entre elas o Ilê Ayê, Os Negões, Malê e Olodum - para que, efetivamente, sejam processadas mudanças em relação à participação dos blocos afro e de afoxé no Carnaval, é necessário que os envolvidos na festa entendam o papel social-econômico dessas agremiações para a formação do povo baiano. Segundo ele, é importante entender que a criação e manutenção dessas entidades foi uma ação política e não apenas uma iniciativa cultural. “Os blocos afro foram e continuam sendo instrumentos de combate ao racismo. Esta postura implica também na defesa do meio ambiente, no combate à exploração sexual e até hoje continuam sendo um espaço importante de discussão sobre questões sociais.” , explica França, que também é membro do Conselho do Carnaval. Ele defende uma ação em conjunto com a Câmara de Vereadores e o Ministério Público, para que haja a quebra do monopólio na fila dos trios e blocos durante o Carnaval e a penalisação dos infratores. Outro ponto estratégico para França é a criação de um fundo de cultura, para que os blocos tenham “um mínimo de estrutura”.
Mônica Kalile, dirigente do bloco A Mulherada, entre outras observações disse que é hora de tratar do direito autoral de imagem dos blocos. Segundo ela, estas imagens percorrem o mundo, mas não dão retorno financeiro à essas entidades. Nadinho do Congo, presidente da Associação de Afoxés da Bahia lembrou que representa a terceira geração desse Afoxé, fundado na década de 40 e falou da importância desses grupos no que diz respeito à criação de emprego e renda dentro destas comunidades e o compromisso que o poder público deve ter com essa população. “Somos consultores dos senhores secretários e órgãos no que se refere ao carnaval”, enfatizou contrapondo ao que acontece hoje.
Integrante da mesa como assessor da Secretaria Municipal da Reparação e ouvidor do órgão, Antônio Cosme disse que o tratamento desigual dado aos blocos afro e de afoxé é um dos reflexos da discriminação racial e que são evidenciados ainda mais no período de Carnaval. Destacou , entre outras coisas que “para se obter mudanças implica num trabalho complexo mas possível e afirmou que diminuir as desigualdades é papel do poder público.”
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