Foi um momento raro. Um show especial, inesquecível, por uma causa bastante justa: ajudar o projeto Velho Amigo, de auxílio ao idoso desamparado. E a musa do axé Claudia Leitte surpreendeu a uma seleta e exigente platéia, acostumada a vê-la e ouvi-la eletrizada, no ritmo do carnaval da Bahia e que lotou o Terraço da Daslu, em São Paulo.
Ontem quem subiu ao palco, acompanhada por um quarteto de cordas, foi uma Claudia bem diferente, que construiu seu repertório à base do melhor da MPB, com espaço nobre para Djavan, Gil, Toquinho e a inesquecível Elis. Que temperou tudo com alguns hits internacionais, cantados em inglês e espanhol, mas que teve de se curvar, no final da apresentação, com a platéia em ritmo de carnaval, a atacar de Exttravasa e Beijar na Boca, seus mais recentes sucessos.
O show começou pontualmente às 23 horas com Claudia vestindo um modelo longo, estampado, com predominância na cor azul, criação do estilista paulista Valério Araújo, que, aliás, estava na primeira fila. A jaquetinha e as sandálias ficaram de lado logo após a primeira música, sucesso de Gilberto Gil, ?Toda Menina Baiana?. Foi a senha que Claudia usou para tornar mais descontraída e intimista a noite, mesmo diante de uma platéia tão requintada e inédita em seus shows. E a fórmula deu certo.
Daí em diante palco e platéia tornaram-se cúmplices nas emoções e sentimentos, com Claudia surpreendendo a cada novo sucesso. O rei Roberto Carlos não compareceu ao evento, mas não ficou de fora dele. Claudia recorreu a dois dos seus maiores sucessos com uma interpretação forte e instigante. Primeiro com o sucesso Falando Sério, arrancando longos e calorosos aplausos da platéia, e mais tarde, com Amor Perfeito, ambas as canções imortalizadas na voz do rei.
Para cada hit, uma mensagem. A preocupação com a desigualdade social levando Claudia a admitir com tristeza que em alguns momentos parece que o Haiti é aqui. Depois, ressaltando a iniciativa do projeto, lembrando que de uma forma ou de outra, a sociedade ainda se mostra propensa a estender a mão a uma criança carente, mas já não demonstra a mesma atenção e sensibilidade com os idosos.
E, em outro momento, este mais de ternura, uma declaração de amor ao marido, empresário Marcio Pedreira, que para ser mais autêntica fez questão de fazer olhos no olhos, trocando o palco pela mesa onde ele a assistia quase sem piscar, discreto como sempre, mas com o seu jeito de eterno apaixonado, ao lado de amigos, entre eles a apresentadora Adriane Galisteu.
Aliás, coube a Galisteu, explosiva e animada como sempre, comandar o carnaval puxando a turma do gargarejo na beira do palco, já no finzinho do show, ao lado da anfitriã e organizadora do evento, Regininha Moraes, pedindo bis e pulando sem parar. Galisteu, que antes se emocionou em pelo menos dois momentos do show, os mais fortes da noite: quando Claudia reviveu Elis e seu inesquecível Qua quara qua qua e na homenagem que fez ao filho Davi, com o hit internacional ?*Somewhere over the rainbow**?.*
E numa noite tão especial e única, a Bahia não podia ficar ausente e ganhou uma homenagem dupla na abertura do show, ?Toda Menina Baiana? de Gil e mais tarde com ?Imitação?, da autoria de Batatinha, um dos grandes compositores baianos, por anos vizinho de Claudia no bairro da Saúde, Centro Histórico de Salvador.
Noite de sons e ritmos variados, onde o reggae também marcou
presença com ?Turn your Lights? de Bob Marley e a inconfundível de Susan Tedeschi, na canção ?It Hurts so bad?, que ganhou uma interpretação marcante de Claudia a ponto de a musa baiana não resistir e se emocionar ao final da música, após uma confidência:
- Eu admiro tanto esta mulher que minha guitarra inspirou-se na dela. Eu não queria só cantar como ela, eu queria ser ela ? disse emocionada.
E assim foi a noite, como se não tivesse fim, embora fosse uma segunda-feira de trabalho para todos. Entre as canções que marcaram a grande festa, ?Todo dia ela faz tudo sempre igual?, de Chico Buarque, ?Esquinas?, de Djavan, e ?O Caderno?, de Toquinho, foram escolhidas neste repertório especial.
E já passava de uma da manhã quando a platéia afinal concordou em dar adeus a Claudia no palco, seguindo com uma tietagem que em nada deixava a dever aos shows que ela realiza pelo Brasil. O acesso ao camarim ficou congestionado e muitos foram os que fizeram questão de cumprimentar a musa baiana, a começar pela própria anfitriã, a empresária paulista Regininha Moraes, para quem ?foi uma noite 100% perfeita, onde Claudia se superou e encantou a todos com seu carisma, sua simpatia, sua voz e uma personalidade marcante na arte de interpretar?.
Para Claudia, mais que a alegria dividida com o público, a emoção de ter participado dos 10 anos de um projeto tão nobre e com um show tão especial:
- Deus quis que assim fosse, que aqui fosse e tudo acontecesse como
aconteceu. Foi uma festa linda, um público especialíssimo, que confesso me deixou com um friozinho na barriga no começo do show, mas que me recebeu com um carinho tão grande que não tenho como agradecer. Valeu gente!
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