Mais de 100 entidades carnavalescas dos segmentos afro, afoxé, samba, reggae e índio participam do Carnaval da Cultura este ano e vão desfilar com o apoio do projeto Carnaval Ouro Negro, da Secretaria de Cultura do Estado. Na música, na estética e na identidade, cada uma exalta o seu legado cultural. A maioria das entidades é de matriz africana e vai mostrar, nas ruas, a força e a beleza da cultura negra para a formação do povo dessa terra.
“Apesar do nosso carnaval ser bastante africanizado, estas agremiações, em especial as médias e pequenas, têm grande dificuldade de obter patrocínios, o que evidencia o preconceito ainda vigente. O Carnaval Ouro Negro ajuda a garantir a presença fundamental, diversa e bela das entidades negras no carnaval da Bahia”, afirma o secretário de Cultura do Estado, Albino Rubim.
Em meio às comemorações pelos 40 anos de existência do Ilê Aiyê, o presidente do bloco, Antonio Carlos Vovô, define como “fundamental” a parceria com o Governo do Estado. “Sem esse apoio seria inviável sair dignamente. Seria difícil para nós e mais ainda para os blocos menores que estão se organizando agora”, afirma Vovô do Ilê. Este ano, o bloco será seguido por mais de dois mil foliões associados, movidos pelo tema “Do Ilê Axé Jitolu para o Mundo – Ah se não fosse o Ilê Aiyê”
O Mais Belo dos Belos, como todos os anos, realiza a sua saída para o carnaval da Ladeira do Curuzú, no sábado (1o/03). O desfile percorre o bairro da Liberdade e encerra no Campo Grande. Na terça-feira (04/03), o bloco marca presença no circuito Osmar. Entre os convidados este ano, já estão confirmados os cantores Ellen Oléria, Lazzo Matumbi e Beto Jamaica.
“O Carnaval Ouro Negro abraça grupos de grande importância social e cultural que ajudam a contar a história da Bahia e do carnaval. Além do investimento na festa, o programa possibilita que estas entidades desenvolvam trabalhos sociais dentro de suas próprias comunidades ao longo ano, afirma a diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), Arany Santana.
A participação popular na construção da identidade dos blocos afro e afoxés é característica marcante destas associações. Em sua maioria, elas nascem em comunidades periféricas e populosas, como o Ilê Aiyê, no bairro da Liberdade. Muitas começaram com um projeto social, recrutando crianças, jovens e adultos, reinserindo–os na sociedade através do trabalho, do estudo e das artes. Da comunidade surgem os seus cantores, percursionistas, bailarinos, figurinistas e a capacidade de criar, recriar e de transmitir suas histórias de resistência e afirmação.
Nascido no terreiro de candomblé São Jorge Filho da Goméia, em Lauro de Freitas, nos anos 1990, o Bankoma é um desses exemplos. Começou como projeto social em 1995 e só chegou a avenida como bloco em 2000. Este ano, o bloco vai levar para a avenida na quinta-feira (27/02) e no sábado (1o/03) uma homenagem a Xangô – o orixá da justiça. O tema do desfile, que reúne mais de três mil seguidores, é “N’zazi Nipovi Kupepumuka Bamburucema” – O advogado das leis e tradições levado pelo vento de Bamburucema.
Mãe Lúcia das Neves, a Mameto Kamurici, presidente do bloco, revela traços da identidade do Bankoma. “Agregamos povos de terreiro, quilombola, marisqueira, pescadores. Somos mais que carnaval, mais que um bloco. Somos um projeto social que apresenta uma comunidade ao grande público. Quem está lá no palco são os nossos meninos”.
O bloco Afro Malê Debalê também tem uma histórica contribuição social desde a sua fundação em 1979. “São 35 anos quebrando paradigmas. Com este tema a gente conta a história, a problemática e a trajetória do Malê até chegar em 2014. É isto que todos vão ver no sábado (1o/03) e na segunda (3/03) na avenida, sem esquecer do Malezinho, que desfila no domingo (2/03) em Itapuã”, afirma o presidente do bloco, Claudio Araújo. Mais de quatro mil foliões vão sair no Malê, organizados em 15 alas. Dentre elas, as alas Carlinhos Brown, Copa do Mundo, Pescadores e Legado da Tradição da Bahia em Versos e Prosas.
Vale ressaltar que o Carnaval da Cultura / Ouro Negro é mais que uma festa, é uma celebração da perseverança em meio às histórias de luta que unem os povos negros e indígenas. É sob influência dos índios, por exemplo, que vão às ruas duas tradicionais entidades: o Apaches do Tororó (1966) e o Commanche do Pelô (1974).
Dentre as centenas de agremiações de matrizes africanas, estão o Ilê Aiyê, Olodum, Cortejo Afro, Filhos de Gandhi, Bankoma, Didá, Malê Debalê, Muzenza e Ibéji – este último leva às ruas no seu 24º desfile mais de duas mil crianças.
Fonte : SECULT BA (20/02/14 | 11H02) - fevereiro 2014
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