A Assembleia Legislativa realizou ontem a sessão especial Carnaval Ouro Negro para marcar o Dia da Consciência Negra, ocorrido no último dia 20. O evento foi proposto e presidido pelo deputado Bira Corôa (PT) e foi aberto com a apresentação dos afoxés Filhos do Congo e Kambalagwanze. “Nossas manifestações culturais são também atos de afirmação e manifestações políticas”, definiu o parlamentar.
A inclusão do Projeto Carnaval Ouro Negro no Estatuto da Igualdade Racial foi comemorado em diversos pronunciamentos, a começar pelo discurso do próprio Bira Corôa. “A partir deste momento, a iniciativa deixa de ser uma política de governo para se tornar uma política de Estado”, definiu.
Professor de ofício, o parlamentar não se furtou de dar uma verdadeira aula sobre o desenvolvimento do Carnaval na Bahia, desde os tempos do Entrudo, e a resistência de uma elite branca em ceder espaço ao povo negro. “As festas populares têm sido historicamente um espaço importante para entendermos as relações sociorraciais baianas”, afirmou, destacando neste sentido o Carnaval.
“Até a primeira metade do século passado, o Carnaval baiano dividia-se entre a Europa e a África”: o oficial, organizado e patrocinado pela elite local com suntuosos desfiles, e as manifestações espontâneas na periferia, a exemplo de blocos e clubes negros e do afoxé Filhos de Gandhy, surgido em 1949. O parlamentar aponta o surgimento do trio elétrico, em 1950, como elemento desarrumador do Carnaval hierarquizado.
Corôa lembrou da audiência pública realizada em 1º de outubro do ano passado, quando a palavra de ordem era “a gente não pode perder o que já conquistou”. Ali se buscavam mecanismos para garantir a perenidade do projeto, deixando de ser apenas uma medida governamental. “Outro objetivo daquela nossa audiência foi ampliar o programa para as micaretas”, disse, considerando que o Ouro Negro já está garantindo os carnavais fora de época que estavam se perdendo no interior do estado.
O petista ressaltou ainda que o Ouro Negro surgiu “no momento em que o Carnaval passa pelo processo de maior elitização”, com camarotes e blocos de corda tomando as ruas, tirando espaço para outras manifestações e a espontaneidade dos foliões.
O deputado Álvaro Gomes (PC do B) ocupou a tribuna para lembrar que o Brasil avançou muito em ações antirracistas, fruto da história de lutas do movimento negro e da ascensão do presidente Lula e do governador Jaques Wagner. “Mas precisamos avançar mais, pois ainda há muita discriminação”, disse, defendendo que “precisamos viver nesta diversidade espetacular, mas em uma sociedade harmônica, onde todos possam ser felizes”.
Convidada para fazer uma palestra sobre o impacto do Ouro Negro na realidade dos blocos e afoxés afros, a presidente do afoxé Kambalagwanze, Iracema Neves disse que o projeto Ouro Negro – criado em 2007 pelo então secretário da Cultura Márcio Meirelles – foi um divisor de águas. Ela lembrou que as entidades se encontravam naquela ocasião “à deriva, totalmente perdidos”.
Além de entrar com aporte financeiro, o projeto orientou os dirigentes na administração institucional. “Pudemos ver onde estávamos errando”, disse Iracema, que classificou o projeto como “a redenção dos blocos e afoxés”. O secretário da Cultura, Albino Rubim, fez um relato dos investimentos do estado no Carnaval, entre 2008 e 2014, com destaque para o Ouro Negro.
Ao final do evento foram premiados pela colaboração ao Carnaval baiano Vadinho (Bloco Alvorada), Nadinho do Afoxé Filhos do Congo, Arani Santana, diretora do Centro de Culturas Populares e Identitárias, a procuradora do estado Cléia dos Santos; presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB, Patrícia Lima; o cantor Tonho Matéria, a presidente do Conselho Municipal Comunidades Negras e Indígenas de Feira de Santana, Lourdes Santana; França, presidente do Fórum de Entidades Negras da Bahia; Paulinho, diretor do bloco Os Negões; e Iracema Neves.
Falaram ainda na sessão de ontem o chefe de gabinete da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, Ataíde Lima; superintendente da Secretaria de Direitos Humanos, Aílton Ferreira; a pró-reitora de ações afirmativas da Uneb, Mariluce Macedo, e a atriz Tânia Toco.
Fonte : ASCOM ALBA- novembro 2014
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