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Resgate da trajetória do trio elétgrico





Pesquisadora Lilian Cristina Marcon
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Encontro de trios vem perdendo a força - PARTE II
Troca de acordes elétricos na Castro Alves vem perdendo a força corre o risco de desaparecer

POLÊMICA CATÓLICA
No ano de 76, oito trios já participavam do encontro, entre eles o Saborosa (que tinha o formato de uma garrafa), Tapajós, Marajós e Dodô e Osmar. Os demais vinham de cidades do interior. Artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Baby do Brasil sempre foram presenças garantidas no ponto alto da festa. Ponto alto, pois era ali que surgiam a confraternização dos trios, o agradecimento por mais um Carnaval, homenagens, lançamentos e novidades, como, por exemplo, a Ave-Maria que Ademar, da Banda Furta-cor, cantou pela primeira vez no Carnaval. Nos anos 80, a festa ganhou brilho com as presenças de novos artistas, como Luiz Caldas, Sarajane e Laurinha.

A introdução do Hino do Senhor do Bonfim no encontro aconteceu como uma maneira de agradecer por mais um ano de alegria. Era costume de Osmar Macedo aproveitar a sexta-feira, já que o Carnaval começava no sábado, para benzer o trio na Igreja do Bonfim. Já que, na época, o trio era menor e ainda não usava carreta, como hoje em dia, subir a colina não era problema.

"Meu pai fazia questão de levar o trio até lá e, ao chegar na porta da igreja, ele pedia a bênção, tocando o Hino do Senhor do Bonfim", lembra André. A execução do hino chegou a incomodar o ex-arcebispo primaz dom Lucas Moreira Neves, que quis proibir que se tocasse. Osmar Macedo, porém, nunca foi contra a posição da igreja, mas também não impedia que os filhos tocassem a música. Assim, a tradição acabou falando mais alto e o povo continua acompanhando Armandinho no hino.

Apesar do aspecto de bagunça com a praça em fim de festa, o encontro de trios sempre teve uma organização especial, cuidada por Osmar, que se preocupava em abrir espaço para todos os cantores e cada um interpretava o que queria. Por parte dos artistas, havia o respeito pela autoridade máxima na praça e até pediam licença ao "seu" Osmar para encostar o trio. A festa chegava ao fim quando o inventor da fobica pedia licença ao povo para descansar.

No ano de 1996, por questões de saúde, Osmar Macedo não encerrou a festa, retirando-se mais cedo do que o previsto. Baby relembrou vários sucessos. Mesmo contra a vontade dos policiais e contra o pedido de dom Lucas para que o Carnaval não invadisse a Quarta-feira de Cinzas, Baby do Brasil cantou até às 9h30 e, ao chegar na Carlos Gomes, disse ao pessoal da limpeza pública: "Vocês sabem que eu gosto de ficar até esta hora para tocar para vocês".

No ano seguinte, nove trios se reuniram na Castro Alves, fazendo o que foi considerado um dos melhores encontros dos últimos anos. Houve banho de mangueira, presenças como Margareth Menezes, Tonho Matéria, Gerônimo, 20Vê e Skulacho. Às 5h, quando chegou o Trio Armandinho, Dodô e Osmar, Orlando Tapajós anunciou: "Agora, a praça Castro Alves se completou. A praça é nossa, é de Osmar". Baby se apressou em homenageá-lo cantando o Brasileirinho.

O encerramento do Carnaval 98 foi de saudade. No primeiro encontro de trios sem Osmar Macedo, que havia falecido sete meses antes, seus filhos tiveram que assumir o posto e não deixaram por menos, apesar da falta física do pai. Estrelas da axé music, como Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Margareth Menezes, dividiram o mesmo trio. Também passaram pela praça Cid Guerreiro, Gilberto Gil, Baby do Brasil e até a dançarina Carla Perez. No ano passado, a festa foi um pouco mais fria e, apesar de Gil e Caetano não terem aparecido, Armandinho e Baby do Brasil fizeram bem sua parte.


Fonte: Márcia Luz, Correio da Bahia - Janeiro 2000


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