Em 1943 Dodô e Osmar inventaram o "pau elétrico", instrumento musical de som estridente, criado num pedaço de cepo maciço, instrumento que se transformaria no que é hoje a guitarra baiana. A idéia surgiu à partir do deslubramento, após assistirem um ano antes, o show do violinista Benedito Chaves no Cine Guarani em Salvador, em que o mesmo tocava um violão elétrico. Embrião da guitarra baiana, instrumento modificou a história do Carnaval de Salvador Segundo Márcia Luz, "Antes de criar a fobica, os dois amigos tiveram a idéia de construir o pau elétrico após verem, no antigo Cine Guarani, uma apresentação do violonista Benedito Chaves, que estava de passagem por Salvador, em 1942. Na época, o instrumentista trouxe à Bahia um violão elétrico, coisa que ninguém conhecia por aqui. Apesar de ser uma novidade, o instrumento apresentava muita microfonia durante o espetáculo, forçando o músico a interromper o show várias vezes para mudar a posição do amplificador. Após a apresentação, Dodô e Osmar foram até o hotel do músico para conhecer melhor o instrumento e Dodô, por já ter conhecimentos sobre eletrotécnica, achou que poderia encontrar um meio de acabar com aquele problema. Dodô percebeu que o barulho estava ligado ao captador do instrumento e teve a idéia de construir um outro com lâmina de cigarro, que também apresentou o mesmo problema. As tentativas continuaram até que, um dia, na sua oficina, a dupla pegou um pedaço de pau, estendeu uma corda e colocou um captador embaixo, obtendo som sem microfonia. Depois de todos esses experimentos, em plena manhã de uma segunda-feira, lá foram os dois esperar a loja Primavera abrir para comprar um violão e um cavaquinho. Na chegada, pediram ao vendedor um violão e perguntaram: "É forte isso?". O rapaz disse que sim e, na mesma hora, Osmar encostou-o na quina do balcão e deu duas batidas para quebrar a caixa sonora. O vendedor reclamou mas, mesmo assim, eles pediram um cavaquinho e o instrumento teve o mesmo destino do primeiro. O vendedor só se acalmou quando Dodô e Osmar confirmaram que pagariam os instrumentos. Na verdade, o interesse deles era apenas nos braços do violão e do cavaquinho. Por isso, quebraram as caixas e aproveitaram para fazer uma brincadeira". O fato é que, a partir dali, aperfeiçoaram o pau elétrico com pedaços de jacarandá e tocaram o instrumento nas festas que realizaram até 1950, sem nunca patentear o invento. Tanto que hoje questiona-se se a invenção da guitarra nasceu da idéia de Dodô e Osmar ou de Leo Fender. Certo mesmo é que, se não fosse o pau elétrico, a música do Carnaval baiano não teria mudado. A partir dessa história, fica fácil imaginar qual seria o próximo passo: uma fobica na rua anunciando que o trio elétrico estava a caminho. Batizado de guitarra baiana em 1975 por Armandinho, o pau elétrico continua fazendo história e a Fundação Osmar Macedo administra cursos para tocar guitarra baiana. Esse trabalho, conta Elifas, começou em 1996, quando ele viu uma apresentação de Armandinho, na cidade de Arapiraca, e achou que poderia incrementar ainda mais o instrumento. "Hoje, vejo a guitarra baiana como um instrumento componente de uma banda, e não substituto de outro", diz ele. O que caracterizam a guitarra baiana é o tamanho e a afinação do bandolim, podendo ter cinco ou quatro cordas. É um instrumento para ser tocado, basicamente, por solistas. No processo de aperfeiçoamento, foram estudados cada detalhe, como exemplo, o uso do tipo de madeira: O jacarandá, por exemplo, foi o primeiro tipo a ser utilizado e, hoje, Elifas trabalha também com o cedro, que oferece melhor qualidade para o som que se espera obter de uma guitarra baiana. "A Fundação Osmar Macedo continua pesquisando o invento e hoje podemos dizer: a guitarra, que transformou o comportamento da juventude, também nasceu na Bahia", afirma o Luthier.
Texto : Márcia Luz