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SAUDAÇÃO A PALMARES
Castro Alves

Nos altos cerros erguido
Ninho d'águias atrevido,
Salve! — País do bandido!
Salve! — Pátria do jaguar!


Verde serra onde os palmares
Como indianos cocares —
No azul dos colúmbios ares
Desfraldam-se em mole arfar! ...


Salve! Região dos valentes
Onde os ecos estridentes
Mandam aos plainos trementes
Os gritos do caçador!



E ao longe os latidos soam...
E as trompas da caça atroam...
E os corvos negros revoam
Sobre o campo abrasador! ...


Palmares! a ti meu grito!
A ti, barca de granito,
Que no soçobro infinito


Abriste a vela ao trovão.
E provocaste a rajada,
Solta a flâmula agitada
Aos uivos da marujada
Nas ondas da escravidão!


De bravos soberbo estádio,
Das liberdades paládio,
Pegaste o punho do gládio,
E olhaste rindo pra o val:
"Descei de cada horizonte...
Senhores! Eis-me de fronte!"


E riste... O riso de um monte!
E a ironia... de um chacal!...


Cantem Eunucos devassos
Dos reis os marmóreos paços;
E beijem os férreos laços,
Que não ousam sacudir ...


Eu canto a beleza tua,
Caçadora seminua!...
Em cuja perna flutua
Ruiva a pele de um tapir.


Crioula! o teu seio escuro
Nunca deste ao beijo impuro!
Luzidio, firme, duro,
Guardaste pra um nobre amor.


Negra Diana selvagem,
Que escutas sob a ramagem
As vozes — que traz a aragem
Do teu rijo caçador! ...


Salve, Amazona guerreira!
Que nas rochas da clareira,
Aos urros da cachoeira —


Sabes bater e lutar...
Salve! — nos cerros erguido —
Ninho, onde em sono atrevido,


Dorme o condor... e o bandido!...
A liberdade... e o jaguar!



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