O GALO DA MADRUGADA



Navegue nas páginas de Cordel de José Honório que retrata o desfile do Galo da Madrugada, no Carnaval de Recife, no Pernambuco.

No Galo se ve de tudo
Em termos de carnaval
Tem o frevo que domina
Sendo o prato principal
Nesse banquete de ritmos
Que levantam nosso astral.

Tem abre-alas, baianas
Toureiros e mandarins
Passistas, porta-estandartes
Tocadores de clarins
Tem colombinas faceiras
Pierrôs e arlequins.

Palhaços, xeiques, piratas
Odaliscas, enfermeiras
Bailarinas, normalistas
Diabos, padres e freiras
Onças, anjos, gatas, noivas
Tiazinhas, feiticeiras.

Tem folião casual
Que nao vai fantasiado
Usa bermuda e camisa
Um sapato já sambado
Se embala com o frevo
E faz o passo rasgado.

Gente que vai pelo frevo
Pelo embalo da folia
Gente a fim de se dar bem
No xumbrego da orgia
Seja qual for o motivo
No Galo se extasia.

Aos que lhes falta coragem
De juntar-se r multidão
Por medo, por preconceito
Por qualquer limitação
Há camarotes pra quem
Puder gastar seu carvão.

Mas o bom é ir pro meio
Do povo que se atropela
Quando do trio se ouve
“Voce diz que ela é bela...”
A pernambucanidade
É aí que se revela.

Tem casado que dá drible
Na mulher e vai sozinho
Diz que vai fazer um bico
Combina com seu vizinho
Passa o dia na muvuca
Chega em casa mamadinho.

Tem também mulher que vai
Escondida do marido
Veste um short, calça o tenis
E diz pra ele: - Querido
Eu vou lá na costureira
Para provar um vestido.

Tem gente cheirando lança
Pra ficar numa maior
Cheira loló, cheira cola
Eu nao sei o que é pior
Prefiro cheirar cangotes
Molhadinhos de suor.

Lá no Galo todos brincam
Numa só cumplicidade
Criança, jovem, coroa
Folião de toda idade
Acompanhado ou sozinho
Quer seja ou não da cidade.

Muitos dos que lá não vão
Gostariam de poder
Mas o que pode e não vai
Eu não consigo entender
Só lamento que não saiba
O que está a perder.

Infelizmente também
Tem os pais desnaturados
Que levam os filhos e não
Tem os devidos cuidados
Não os protegem do sol
E nem dão água aos coitados.

No Galo também tem gente
Que não vai pra brincadeira
Sao lanceiros bem atentos
Aos que estão de bobeira
E depois que dçao o lance
Lá se foi sua carteira.

Tem quem vai com o propósito
De provocar confusão
Passa a mao na bunda alheia
Dá pisada e beliscão
Cantando mulher dos outros
Dando soco e empurrão.
Fazem para aparecer
Para mostrar valentia
Pensando ganhar cartaz
Perante alguma guria
Porém nem mesmo conseguem
Estragar nossa alegria.

Mulheres que se aproveitam
E dão corda aos donjuans
Comem, bebem às suas custas
Olhando pra suas cãs
E na “hora da verdade”
Desaparecem nas vans.
Tem cara que força a barra
E às minas dá bebidas
No intuito de deixá-las
Fogosas, desinibidas
E assim tê-las nas malhas
De suas mãos pervertidas.

Tem travesti exibindo
A forma siliconada
Sobre dois palmos de salto
Levando vaia e dedada
Dos gaiatos de plantão
Que não deixam passar nada.

Tem sapatões que se vestem
De soldado ou de palhaço
Com cachaça na cachola
Entram logo no amasso
E sem ligar para o povo
Tome beijo e tome abraço.

Tem vendedor de comida
Daquelas comeu-morreu
Ganhar o mais que puder
É este o desejo seu
Mesmo que fique doente
Quem seu quitute comeu.

No começo é maravilha
Mas depois de certa hora
A cerveja só vem quente
O calorão estupora
As brigas se intensificam
O melhor é ir embora.

Digo que as almas sebosas
Jamais serão empecilho
Para que o Galo sempre
Mantenha firme este brilho
E um pai possa brincar
Trazendo no braço o filho.

No bairro de Sao José
O Galo tem endereço
Muitos lá se equilibram
Outros viram pelo avesso
Se para uns basta o Galo
Pra muita gente é o começo.

FIM


Bibliografia
- Literatura de Cordel : José Honório - josehonorio.com.br

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