O Olodum é muito mais que uma entidade carnavalesca: é uma das mais legitimas representantes das instituições do terceiro setor e da economia criativa e ator apartidário que se consolidou nacional e internacionalmente, como uma referência da luta pela igualdade e pela cultura da paz. Antenado com a contemporaneidade, o Olodum considera que o ano de 2015 se constituiu em um divisor de águas na história do país, mas, diferentemente do que o senso comum parece querer demonstrar, acredita que o foco dos problemas não está apenas na política partidária ou na fragilidade da gestão governamental do momento.
É óbvio que a responsabilidade da atual elite política, social e econômica que dirige os espaços de poder, nos governos e nos mercados, se constitui numa dos mais importantes catalisadoras das mazelas que foram estruturadas pela formação histórica de um estado racista e elitista, dominado por um status quo irresponsável e patrimonialista. Essa é a nossa depreensão quando nos debruçamos por sobre as mensagens que o Bloco Afro conseguiu traduzir nessas quase quatro décadas de existência, através das criações de seus compositores, performances de cantores, instrumentistas e produtores, em estreita interação com os diversos segmentos da sociedade e com a população negra e mestiça dos bairros populares, em especial.
Por isso, o Olodum sintetiza, nos três dias de apresentação na avenida, sua intervenção mais pública, através de temas que instruem, provocam e, acima de tudo, resgatam o legado civilizatório que povo negro trazido à força de África, vem imprimindo nas Américas e, especialmente, no Brasil e na Bahia. Da homenagem à Nigéria e ao Rei de Oyo de 1981 à celebração da Etiópia, a Cruz de Lalibela e ao Pagador de Promessas em 2015, o Bloco Afro Pelourinho apresenta-se como um sujeito coletivo que conta, reconta, interpreta e reinterpreta nossa história à luz de uma dimensão particular que remonta as divindades do Egito antigo, chegando até os dias de hoje, com os nossos complexos personagens dos guetos da cidade com heróis e anti-heróis de nossas comunidades, que fazem o Brasil verdadeiro e concreto, onde “sobreviver não é pra vacilão”.
Fonte : Olodum - junho 2015
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