Voz forte da Banda Mel, Alobêned Airam (Maria Denebola nasceu em Itabuna BA) reclama do Carnaval de hoje
Jornal ATarde - por Diego Barreto - Qua, 23/01/2013 às 23:21
Afastada do Carnaval de Salvador desde 2007, a cantora Alobêned Airam dá continuidade à carreira artística fora da folia soteropolitana.
Voz feminina fortemente identificada com canções como "Prefixo de Verão", "Baianidade Nagô" ou "Bateu Saudade", nos anos 1990,
quando esteve à frente da Banda Mel, a cantora atualmente mostra insatisfação com a festa.
"Não faço a menor questão em participar do Carnaval enquanto ele for administrado da maneira que está. Fora da Bahia, os artistas são muito mais considerados, e se não tenho espaço na minha terra, busco em outro lugar", disse.
À frente da Banda Mel, Alobêned colecionou oito discos de ouro e seis de platina e emplacou os maiores sucessos do grupo,
que até hoje são tocados por artistas da nova geração.
A cantora recorda que, no carnaval de 2007, o trio que puxava foi escalado para desfilar às 4h da manhã, em Itapuan, quando já não há registro dos veículos de comunicação e muitas pessoas já haviam ido embora. "A aparição nacional de um artista é quando ele surge em cima de um trio e os canais de TV mostram. Não é uma reclamação minha, é uma reclamação de todos. Todos gritam mas ninguém ouve", reclama a cantora.
Alobêned, que se apresentou em 2012 no carnaval de Minas Gerais e este ano vai participar da festa das cidades de Natal e Fortaleza, comentou a mudança que ocorreu na festa nos últimos 30 anos e destacou que, com a metamorfose, o 'povão' tem ficado cada vez mais de fora da festa. "O carnaval de hoje tem uma diferença enorme dos anos 80, 90, porque naquela época não existia a empresa. Eram universitários que montavam seus blocos e faziam uma brincadeira. Um ritmo que saía do gueto para os grandes salões. Hoje há mais camarotes fechados para quem paga, são raros os locais para o povo sem dinheiro. Infelizmente, quem não tem R$ 900 para pagar, fica de fora".
Depois de explodir com a Banda Mel, ser uma das precursoras do axé music, migrar para uma banda de pop rock no Rio de Janeiro,
retornar com Robson Morais e Marcia Short, seguir com outro trabalho solo viajando Portugal e Inglaterra - entre 2007 e 2010, Alobêned segue apresentando um projeto em Salvador. O Alô Som, que está em cartaz no Botequim São Jorge, teve início em maio de 2012 com intenção de cumprir uma curta temporada, mas segue para a sua terceira edição, sempre recebendo convidados como Tatau, Nara Costa, Ludmilah Anjos, Adelmário Coelho e vários outros.
A experiente cantora demonstra a mesma disposição do início da carreira. Mesmo fora do circuito carnavalesco de Salvador, continua levando seu carisma e os velhos sucessos que entoava no auge da Banda Mel e, principalmente, envolvendo a todos com a sua voz.
- O AUGE
A Banda Mel foi fundada em 1985, mas despontou para o sucesso quando o vocal passou a ser comandado pela cantora Alobêned, na companhia de Marcia Short e Robson Morais. Foram 11 anos à frente do grupo, tornando-se uma das precursoras do axé music e responsável por levar o samba reggae para o resto do Brasil.
Shows em quase todos os estados brasileiros, nos Estados Unidos, Japão e vários países da Europa fizeram o nome da banda explodir mundo afora e conquistar diversos prêmios. Por causa do grande sucesso, a cantora era obrigada a dividir o tempo entre a agenda cheia de shows e participação em programas de TV, como o Programa da Xuxa, onde era vista constantemente.
A banda era responsável por comandar o Bloco Mel, puxado pela cantora que esteve à frente do grupo entre os anos 1989 e 2000 - época que a música baiana predominava no carnaval e a festa tinha menor influência de música eletrônica e outros ritmos que se misturaram com o passar dos anos.
Após a saída da banda, a cantora seguiu a carreira musical com projetos pessoais. Migrou do axé fundando o Projeto Pop Rock e morou três anos no Rio de Janeiro, apresentando-se na Cidade Maravilhosa. Três anos longe do axé foram suficientes para Alobêned sentir falta do calor de Salvador e retornar à capital, fundando a Banda Nega Maria.
O hiato na harmonia entre a voz de Alobêned, Marcia e Robson teve um final em 2006. A convite de uma produtora, os músicos fundaram a banda Cor de Mel que retornou com ensaios na Praça da Cruz Caída, no Centro Histórico, voltando aos velhos tempos do axé. O grupo chegou a cogitar o lançamento de um álbum, o que não chegou a acontecer.
- INÍCIO DA CARREIRA
Filha de um casal de músicos, carreira que foi seguida pelos seus três irmãos, Alobêned queria ser médica veterinária e "caiu de paraquedas" na carreira artística. Cantava desde os oito anos de idade, mas apenas por diversão, sem cogitar ser profissional.
Os três irmãos da cantora seguiram carreira musical. O mais velho, Marcionílio, tocava na Banda Pike e foi um dos vocalistas da Banda Eva no início dos anos 80. Nonato Teles é violonista clássico, professor de violão e trabalha tocando em bares na cidade de Itabuna. Apenas uma das irmãs não trabalha e vive de música atualmente.
Os filhos seguiram os passos do pai Romilton Teles, poeta, cantor e compositor, autor de alguns sucessos gravados pela Banda Mel, na voz de Alobêned, como "Desejo" e "Gosto da Vida".
Fazia vocal de apoio na banda de um dos irmãos, em Itabuna. Seu irmão, Marcionílio, tocava na Banda Pike, em Salvador. A convite do irmão, que fez parte da Banda Eva no início dos anos 80, passou a se apresentar em alguns shows do grupo no antigo Clube Espanhol, em Ondina.
Foi em uma dessas apresentações que os produtores da Banda Mel deram atenção à voz e ao carisma da garota, então com 18 anos, e a convidaram para fazer parte do grupo, que estourou durante a década de 90.
"Não tinha sonho de ser artista, estudar música, viajar com banda, nada disso. Eu era muito tímida, fui me envolvendo com a situação e acabou acontecendo", lembra a cantora, hoje com 43 anos.
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