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ERA ASSIM ...

A sociedade do Reconcavo escolhia rítmos lentos. A côr local tinha matizes esquisitas. Casas enormes; pomares grandes; pequenos jardins de poucas flores. Rescendem ao lado dos sobrados jasmins, bogarins e rosas que enfeitam os canteiros e ao fundo; entre cercas altas, alinha-se toda a sorte de árvores frutíferas. Dentro daqueles solares, mais prata, sêdas ou jacarandás e louças da Índia. Quê confôrto! Quadros mui poucos. Retratos em abundância. Multidão ruidosa de domésticos (cada escrava para seu serviço). Nas cozinhas enfumaçadas, escuras, com fornos de tijolos, revesam-se as que descascam, as que debulham, as que moem e pilam, as que tomam ponto aos doces e as que cosinham. Nas salas das crias, fiadeiras e rendeiras trabalham a cantar. Cantam ao compasso dos bilros, alinhadas em estrados pequenos.
Pelos páteos vê-se tanques e fontes cercados de estribeiros, correeiros, lavadores e tantos mais. Respira-se uma gaia atmosfera de contínuas festas entre solares e canaviais. Num raio de dez léguas, cem engenhos. Em cada engenho, um fidalgo. Fidalgos rústicos, outros polidos. Uns montezes, outros palacianos. Mas, todos orgulhosos !!! Aqui, senhoras escabriadas; além de damas exaltando galas e graças, como camélias de estufa num jardim agreste. Nas varandas lances de gamão e/ou cartas acompanhadas de "maracutaio" de casos picantes e gargalhadas vivas. Conversas de lavouras e safras, cavalos e escravos, preços, dificuldades e intrigas.
À noite vinha muitas vezes no vento, o bum-bum dos candomblés, trazendo a toada tristonha de batuques longínquos; indolência de echos no tamborilar repetido dos tan-tans, em que o ouvido somnolento espera a batida nova lembrando a que já escutou. Eram festas de negros, eram ritos nagôs, negros de feitiço, negros de santo, reis de Congo, princesas de Moçambique. Negros bons sorrindo felizes; negros fujões com cangas; moleques comedores de terra com mordaças; negros enfezados e castigados; negros dedicados e amigos e tantos outros negros. Negros e mais negros. E diante dos negros, os Senhores de Engenho que brutalizam numa côrte de exploradores broncos. Que vegetam, perdendo terras, vendendo o herdado patrimônio, arruinando-se miseravelmente.
E assim, era o Recôncavo !!!

Texto : Wanderley Pinho


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