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FARAÓ e o EGITO CAEM NA BOCA DO POVO

"Eu falei faraó". Esse grito foi a senha para uma melodia apresentada como samba reggae. A novidade contagiou a Bahia inteira, com uma letra que desfiava a saga de deuses egípcios alcançando um sucesso estrondoso no Carnaval de 1987. Mais do que um megasucesso, a música Faraó passaria a representar a marca da invasão africana no universo da música pop.

A partir de então a África ocuparia a posição de tema onipresente nas melodias que embalariam as festas de ruas baianas. Na primeira leva das canções estava a imagem de reinos fabulosos, divindades, mitos exuberantes evoluindo por fim para o uso dos signos do candomblé.

"Faraó marca a entrada das canções de remissão à África no circuito pop, pois muito antes já se falava da África no Carnaval", aponta o sociólogo e professor da Ufba, Milton Moura. Essa presença anterior destacada pelo professor começou com afoxés, que traziam a temática dos orixás do candomblé para a rua, mérito também dos chamados blocos de índio, como Apaxes, Comanches e Caciques.

Em 1975 essa temática ganha força com o surgimento do Ile Aiyê. "É a chegada vigorosa da africanidade, com a ostentação da pele negra combinada com a realeza e com territorialidade", completa Moura. Já no final dos anos 80, com Faraó essa temática africana passa a ser ampliada no cenário musical baiano.

A música foi composta em 1986 por Luciano Gomes e divulgada pelo Olodum, mas a que ficou mais conhecida foi a versão na voz de Margareth Menezes. "Essa é a entrada vigorosa dos blocos afros no circuito pop. A negritude aparece mais rústica, mais mundializada. O Olodum faz uma aproximação também com o reggae e depois com o hip hop", explica o professor Milton Moura.

No rastro do Olodum surgem outros temas africanos: a realeza de Madagascar, a epopéia da cidade de Elegibó, dentre outras. No início dos anos 90 mais uma surpresa nesse jeito africanizado de cantar: a invenção da Timbalada por Carlinhos Brown. "É como se fosse uma afirmação do "eu sou afro pop". Brown entra no circuito vertiginoso da contemporaneidade no âmbito do Carnaval", aponta Moura.

Além de inovação sonora a Timbalada de acordo com o professor, chega com uma roupagem inédita no quesito estética. "Não é só o rústico mas o industrializado, como o bombril, o isopor, as pinturas tribais. É um tribal, no resumo, mas o tribal do século XXV", acrescenta.

Anos 2000 e mais uma vez a temática afro ganha novos elementos. Dessa vez é o reinado do banto, no âmbito religioso, uma versão do candomblé que entrou como figurante num palco onde os holofotes são para a tradição iorubá. Essa novidade é mais uma vez de autoria de Carlinhos Brown, iniciada com Dandalunda cantada por Margareth Menezes e campeã absoluta do Carnaval de 2003. Na festa de 2004, ficou comprovado o alcance da visão de Brown, pois não foi à toa que duas músicas utilizando banto - Maimbê Dandá de autoria do próprio Brown, cantada por Daniela Mercury e Toté de Maiangá, interpretada por Margareth e composta por Gerônimo e Saul Barbosa - arrebentaram na preferência popular.

"Com Carlinhos Brown temos uma negritude pop, a África mais como referência do que como origem. A maneira inteligente como ele percebe a Bahia no mundo é análoga à maneira como Vieira percebia a Bahia no século XVII. É o hoje, o agora, em circuito planetário o que é genial", avalia Moura.

JOGO DE PALAVRAS - Sobre essa utilização do banto, o antropólogo Roberto Albergaria destaca o jogo feito com palavras soltas, onde a sonoridade vale mais que o sentido poético. "É a arte da bricolagem. Uma mistura de nagô e banto formando uma língua geral, um novo tipo de dialeto mundano, lúdico e artístico que só circula na esfera musical", completa.

Ele destaca que isso dá também um ar de exoticidade e baianidade, características com as quais a Bahia sabe faturar. E o professor sentencia: "O que importa é a forma, não o conteúdo. É a musicalidade das palavras. A colagem verbal reforçando as fantasias africanistas de uma cidade que gosta de se mostrar como uma pura roma Negra, mas que funciona realmente, como uma misturenta Babilônia furta-cor".

Faraó
Composição: Luciano Gomes
Canta: Margareth Menezes


Deuses, divindade infinita do universo
Predominante esquema mitológico
A ênfase do espírito original Chu
Formará no Edén o ovo cósmico
A emersão nem Osiris sabe como aconteceu (bis)

A ordem ou submissão do olho seu
transformou-se na verdadeira humanidade
Epopéia do Código de Geb
E Nut gerou as estrelas

Osíris proclamou matrimônio com Ísis
E o mau Set irado o assassinou
E impera

Hórus levando avante a vingança do pai
Derrotando o império do mau Set
O grito da vitória que nos satisfaz

Cadê?
Tutancamon
Eh Gizé
Akhenaton

Eu falei faraó
ê faraó
clama Olodum, Pelourinho
ê faraó
pirâmide a base do Egito (bis)
Que mara
maravilha ê
Egito, ê (bis)
Faraó,ó, (bis)

Pelourinho uma pequena comunidade
Que também Olodum unirá
Em laços de confraternidade
Despertai-vos a cultura egípcia no Brasil

Ao invés de cabelos trançados
Veremos turbantes de Tutancamon
E as cabeças se encham de liberdade
O povo negro pede igualdade
E deixemos de lado as separações

Cadê
Tutancamon
ê Gizé
Akhenaton
ê Gizé (bis)

Eu falei faraó
ê faraó
clama Olodum rebentão
ê faraó, batendo na palma da mão
ê faraó
clama Olodum Pelourinho
ê faraó
Que mara
maravilha ê
Egito, ê (bis)

Reportagem de Cleidiana Ramos - Jornal ATarde
Tamanha a importância desse texto Cleidiana que é impossível não ressaltássemos e se não a incluíssemos na trajetória histórica carnavalesca e se não a APLAUDÍSSEMOS de pè.



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