Para se chegar aos bailes, organizavam-se cortejos de carruagens. Estes acabavam por se deparar com as brincadeiras populares que não tinham desaparecido. Oresultado desse encontro entre os diferentes grupos carnavalescos seria a hierarquização das vias urbanas. As modificações por que passaria a festa traduziriam, dessemodo, não somente a tensão e a oposição entre as classes sociais, mas também sua abertura ao diálogo. O moderno carnaval brasileiro é, portanto, um casamento entreas tradições populares e o modelo estrangeiro, tomando posse do espaço público e se transformando na festa de toda uma cidade, de toda uma população.
O entrudo popular era visto com maus olhos pela elite, pois era considerada uma festa imoral e indecente. No período imperial, surgiu na sociedade o desejo de "arrumar" o ambiente do carnaval.
O Entrudo que estava perdendo populariedade no carnaval, ganha força com o surgimento das bisnagas/seringas na brincadeira. E os jornais da época anuciaram "Volta do Entrudo", que ele estava ganhando notoriedade entre os folióes novamente.
Em 1886 as binasgas de entrudo poderiam ser alugadas em grandes lojas de magazines conforme notícia do Jornal Libertador da cidade de Fortaleza, no Ceará em 04 de fevereiro.
Jean-Baptiste Debret eternizou em seus trabalhos a brincadeira do Entrudo, e relatou: "Vi, certo Carnaval em que alguns grupos de negros mascarados e fantasiados de velhos europeus imitavam-lhes os gestos...
eram escoltados por alguns músicos, também de cor e igualmente fantasiados." (7)
o entrudo retratado pelos periódicos
um dia de entrudo
No Entrudo os foliões jogavam umas contra as outras limões contendo água de cheiro ou misturas mau-cheirosas ou até urina.
Jogavam-se goma, gesso, pó-de-mico e polvilho. Uma tremenda fuleragem (bagunça).
Das sacadas das residências jogavam seringas com água ou mesmo bacias com grande proporção de água.
o entrudo em quadrinhos
imprenssões de um entrudo
surge os primeiros sinais de censura aos festejos
Represália ao Entruto: No início da era Cristã, começaram a surgir os primeiros sinais de censura aos festejos mundanos na medida em que a Igreja Católica se solidificava, onde determinava que esses festejos só deveriam ser realizados antes da Quaresma. Entrudo passou a ser reprimido com ordens policiais, mesmo assim, as "laranjinhas" e gamelas com água continuavam existindo. Foi exatamente neste período que o Carnaval começou a se originar de forma diferente.
Na segunda metade do século XIX, o jornal Diário da Bahia e a Igreja Católica criticavam e pediam providências ãs autoridades policiais contra o Entrudo. Quando se aproximava o domingo anterior ã Quaresma, todo mundo "entrudava".
Apareciam pelas ruas em forma de bandos os "Caretas" envoltos em cobertas, esteiras de catolé, folhas de árvores e abadás - uma espécie de camisa de manga curta bastante folgada, atingindo a curva dos joelhos, que os negros usavam.
No Entrudo, molhava-se quantos andassem pelas ruas, invadia-se casas para molhar pessoas e não se importava que fosse gente doente ou idosa
Em 1883 e 1884, a Câmara Municipal de São Paulo publicou uma nota em diversos jornais da cidade
absolutamente PROIBINDO O JOGO DO ENTRUDO por ser perigoso e por ser prejudicial a saúde pública.
Em 1876, o Gazeta de Notícias anunciava: "O Carnaval no Rio da Prata não é carnaval, é Entrudo. Em Monteviéu, por exemplo,
o jogo de água, dos ovos e de muitos outros objetos toma proporçõs assustadoras e tão
assustadoras que há uma hora da tarde dos tres dias de carnaval o povo é avisado por um tiro da
peça para evitar que saia a rua. A cidade fica então em perfeito estado de sítio." (8)
"Em Buenos Aires sucede quais a mesma coisa. Este ano, porém o Presidente da Comissão Municipal dirigiu-se a
população em um manifesto, pedindo-lhe de auxiliar a autoridade o empenho de acabar com o ENTRUDO
substituindo-o pelos prazeres licitos do Carnaval, evitando que o menor desgosto venha pertubar, nem mesmo
momentaneamente, o regozijo e a harmonia que devem reinar na mais celebrada das suas festas populares." (8)
Já no Rio de Janeiro no Carnaval de 1853, o fiscal da Freguesia da
Candelária declarou a proibição do Entrudo proporcionando uma pena de quatro
a doze mil réis; e não e se nã teria de dois a oito dias de prisão.
Se fosse Escravo seria preso por oito dias, caso o seu senhor não desse cem acoites. (6)
edital de censura a folia
Edital na íntegra de 1867:
"O Dr. Antonio Rodrigues da Cunha, cavaleiro das ordens de Cristo,
Imperial a Rosa e Real Conceição da Vila Viçosa, 2º Delegado da Polícia da
Corte, por S.Majestade o Imperador que Deus guarde: Faço saber aos que o presente edital virem que se
acha em execução a seguinte postura:
Tít. 8.2 - Fica proibido o jogo do entrudo dentro do município;
qualquer pessoa que o jogar incorrerá na pena de 4$ e12$, e não tendo com que satisfazer sofrerá
oito dias de cadeia caso seu senhor não o mande castigar no calabouço com cem açoites, devendo uns e outros
infratores ser conduzidos pelas rondas policiais a presença do juiz, para os julgar &aagrave; vista das
partes e testemunhas que presenciarem a infração.
As laranjas do entrudo que forem encontradas pelas ruas ou estradas serão inutilizadas pelos encarregados
das rondas.
Aos fiscais com seus guardas também fica pertecendo a execução da postura.
E bem assim fica proibido das 20 horas da noite até 4 horas da manhã, andarem indivíduos pelas ruas
da cidade com máscaras, sendo os infratores presos e punidos com a pena de desobediência.
E para que chegue a notícia de todos, mandei publicar o presente edital.
Rio de Janeiro, 14 de fevereiro de 1867.
E eu, Joaquim Xavier de Melo, escrivão de polícia, o subscrevi."
o entrudo chega ao fim
o carnaval começa a se originar de forma diferente
Por volta de 1800 havia uma separaço entre Entrudo (anárquico) e o Carnaval (Organizado, uma festa para descontração das elites).
Os nobres e a elite passaram condenavam o ENTRUDO POPULAR e até mesmo o ENTRUDO FAMILIAR, considerando-o também uma prática incoviniente e bárbara.
Mas em 1855 que o Carnaval ganha força as ruas, onde os artistas e intectuais defilam fantasiadas em carros alegóricos (corsos)
e começaram a organizar um NOVO CARNAVAL inspirado nos carnavais da Europa (Paris, Nice e Veneza)
e passaram a fazer bailes mascarados e os passeios das carruagens (Corsos).
Entrudo das Cores na Índia
O Holi Festival ou Festival das Cores é realizado atualmente entre fevereiro e março no norte da Índia,
celebrando o início da Primavera, onde as pessoas atiram tintas e pós coloridos umas as outras, com muita bebida,
comida e música, como forma de simbolizar a vitória do Bem (Primavera) contra o Mal (Inverno).
Essa brincadeira se assemelha ao Entrudo de outrora. O Festival Hindú também conhecido como Dhulheti, Dhulandi ou Dhulendi,
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Entrudo das Cores no Peru
Atualmente no Carnaval de Moyobambino, na cidade de Moyobamba, no Peru, resgata a tradição carnavalesca o que mais parece com um entrudo das cores, onde uns jogam nos outros pó colorido e água,
mesmo que não utilizam esse slogan ou considerem um entrudo.
No Carnaval de Moyobambino os bonecos gigantes se misturam aos cabeçudos em um grande desfile carnavalesco puxados por Bandinhas, ao meio de índios e culturas folclóricas locais,
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zé pereira
No Brasil, surgiu uma brincadeira carnavalesca chamada o ZÉ PEREIRA, onde
grupos percorriam as ruas tocando bumbos, zabumbas e, CONTINUAÇÃO AQUI.
nas páginas da história
E têm-têm muito mais trajetória histórica carnavalesca, desfrute das pinceladas do
ENTRUDO, passeando entre os
CHARIVARIS e os CARETOS
jogando água com BISNAGAS (Avó do
LANÇA-PERFUME) ou atirando LIMÕES PERFUMADOS.
Pulando na história para o ZÉ PEREIRAS acompanhado pelos
GIGANTONES, dos CABEÇUDOS, dos BONECOS GIGANTES DE OLINDA,
e dos BONECOS DE MÃO, entre
BATALHAS DE CONFETTI, grandes
em grandes BAILES regados a
CONFETES e SERPENTINAS.
BIBLIOGRAFIA
- Pesquisadora Lilian Crisitina Marcon
(1) FERREIRA, Felipe - O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro, Edição Ediouro 2004
(2) SCHWARCZ, Lilia Moritz - Livro As Barbas do Imperador, D.Pedro II, um monarca nos trópicos, Editora Companhia das Letras
(3) Correio Mercantil, Bahia, 12 de março 1844, ano 1844, edição 57
(5) PRIORE, Mary del Priore - SEE+
(6) BARRETO, Luiz Antonio - Um Novo Entendimento do Folclore e Outras Abordagens Culturais, Sociedade Editorial de Sergipe, 1994
(7) DEBRET, Jean Baptiste -Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, T. I, pag. 220, 1836)
(8) Gazeta de Noticias, 29 de fevereiro 1876, ano II, nr60
(9) O Comercial, fevereiro 1871
(10) Escapada Rural Portugal, Entrudo Chocalheiro, 09/02/2023
(11) Biblioteca Prof. Lydio Machado Bandeira de Mello, Origem do Carnaval 2000
- AGOSTINI, Angelo - As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora, pag. 67 - Editora Senado Federal
- ASSIS, Machado - Livro Um dia de Entrudo
- Biblioteca Nacional, BN Digital
- CASCUDO, Luís da Câmara - Antologia do Folclore Brasileiro, Rio de Janeiro: Ediouro, Terra Brasilis
- COSTA, Haroldo - 100 anos de Carnaval no Rio de Janeiro
- DEBRET, Jean Baptiste - Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, T. I, pag. 220, 1836
- TEIXEIRA, Cid (Cid José Teixeira Cavalcante) - Antologia por Cid Teixeira
- Gazeta de Noticias, 01 de fevereiro 1876, ano II
- Gazeta de Noticias, 29 de fevereiro 1876, ano II
- Libertador, Fortaleza, 04 de fevereiro de 1886
- Periódico A Paródia, Lisboa PT, nr6, 21 fevereiro 1900
- Periódico O Mequetrefe, 1879, ed-159
- Periódico O Mequetrefe, 1886, 10 de março
- Periódico O BESOURO, Rio de Janeiro, fevereiro 1848
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- Periódico O MOSQUITO, Rio de Janeiro, fevereiro 1877
- Periódico O MALHO, Rio de Janeiro, 21 fevereiro 1903, n23, pag.-6, ano2
- Revista Illustrada, RJ, ano4, nr152, pag 7, fev 1879, Angelo Agostini
- Revista Illustrada, RJ, ano5, nr195, pag 4, fev 1880, Angelo Agostini
- Revista Illustrada, RJ, ano9, nr373, pag 4, fev 1884, Angelo Agostini
- Revista Quadrinhos do Z&eaxute; Pereira
- Revista Vida Artistica, Lisboa Portugal, nr 42, pg5, 02/03/1912